quinta-feira, 14 de julho de 2011

Who knew?

Essa noite sonhei mais uma vez com você. Já havia muito tempo que você nao visitava meu subconsciente. E entao que no caminho pro trabalho o meu ipod tocou Who Knew, e eu só pensava em te escrever. Talvez você nunca vai ler essa carta, mas eu preciso pelo menos fazer a minha parte. Eu preciso te dizer que sinto a sua falta.
Eu me lembro de quando você me dizia que ela visitava os seus sonhos, e de como eu achava aquilo estranho. Aquilo nunca tinha acontecido comigo. Agora eu te entendo. Por mais que eu tente enganar meu consciente, fingir que eu te esqueci e que você nao é mais importante pra mim, você continua lá, assombrando meus sonhos. Tinha sumido por um tempo, geralmente depois que eu tentava entrar em contato, pedir desculpas, conversar, esclarecer. Acho que minha mente entendia que eu tinha feito a minha parte. Mas o buraco que você deixou vai ficar pra sempre aqui, nao importa quantos anos se passem ou quao longe eu vá.
Eu errei com você, eu sei que errei. Eu errei em nao te compreender. Nao compreender o que era importante para você. E por mais que eu nao concorde, o acordo de uma amizade (ou qualquer outra relacao) é aceitar o outro como ele é. Qualidades e defeitos. Na época eu nao soube enxergar isso. Hoje eu sei. Mas de que adianta, já aconteceu. Já está no passado. E eu acho que nao há mais espaco para uma amizade entre nós dois.
A vida tomou caminhos diferentes, eu vim pra longe, você seguiu sua vida e eu segui a minha. O tempo passou, a vida passou. Mas eu nao consigo nao me perguntar como teria sido se nada disso tivesse acontecido. E você sabe que eu nao sou uma pessoa que se pergunta "e se...?" Mas com você é diferente. As vezes estou andando por aqui, as vezes vou a uma balada ou qualquer coisa, vejo alguem que te interessaria. Da vontade de te ligar. Meu pensamento imediato é querer compartilhar isso com você. Talvez porque você foi a melhor amiga que eu já tive na vida. E talvez por isso ficou um buraco depois que você se foi. E esse buraco vai ficar pra sempre. Um dia ele vira cicatriz, mas sempre eu vou olhar pra aquela marca e pensar em você, em o quanto eu fui feliz ao seu lado. E mesmo hoje, sabendo que terminaria como terminou, eu faria tudo outra vez. Porque pra mim valeu a pena.
Eu só queria mesmo te dizer que eu ainda te amo, e eu acho que vou te amar pra sempre. Nao te quero mal, pelo contrário, te quero sempre bem. Nao quero pedir sua amizade de volta. Como já disse, acho que nao haveria mais espaco pra isso. Mas quero, acima de tudo, pedir desculpas. Por tudo de errado que eu tenha feito. Por todas as vezes que te fiz mal, por todas as vezes que te irritei...
E quero também te dizer obrigado. Obrigado por ter passado pela minha vida, obrigado por ter me ensinado tanto, por ter me feito um cara melhor. Se um dia eu escrever uma biografia, vários capítulos vao ser dedicados a você. Eu nao te esqueco, nao vou te esquecer e nao quero te esquecer. Eu vou te guardar como uma memória boa, um tempo bom que talvez nunca mais volte. Mas foi um tempo bom. Um tempo em que eu fui feliz.
Se você leu até aqui, mais uma vez obrigado. Nao espero sua resposta, sei o quanto você é orgulhosa para responder. Sei que você vai rir disso com seus amigos, vai dizer o quanto eu sou idiota. Esse é o seu jeito, e eu gosto de você do jeito que você é. Mas eu sei também que no fundo, lá dentro do seu coracao, você vai sentir que tudo valeu a pena. Porque você é de ferro, mas seu coracao é de verdade humano.

I won't forget you my friend, what happened?



sexta-feira, 24 de junho de 2011

A cidade que não tinha montanhas

Três corações e uma cama vazia

Pela primeira vez em sua vida, ele se apaixonou por duas pessoas. Ao mesmo tempo, na mesma quantidade. Duas pessoas que, se ajuntadas, seriam o seu príncipe encantado. Dois caras, completamente diferentes um do outro, mas que se completavam. E pela primeira vez ele queria ter os dois, ao mesmo tempo. Mas, mas uma vez, a vida lhe pregou uma peça. Cada um, a sua maneira, era impossível, inatingível.
O primeiro era tudo o que ele sempre quis em um marido. Um cara mais velho, um porto seguro, bem estruturado, seguro de si, culto, adulto. Tinha os hobbies perfeitos, a vida perfeita, vivia no mundo perfeito. E ele acreditava que esse cara seria sua porta de entrada para a vida que ele sempre quis. Mas esse cara era frio, distante, omisso. Como amante, tanto no plano romântico como no plano sexual, ele estava longe de ser o cara perfeito. Ele era um leonino, um leonine egoista. Um leonino que, as vezes ele pensava, so queria alguém que o amasse e o elogiasse. Independente de quem fosse.
E nesse espaço ele entrou o outro. Assim, devagarzinho. Inesperado. O outro nao tinha a vida perfeita, tinha uma vida mais parecida com a dele. Também era mais velho, mas tinha uma alma jovem. E como era carinhoso... Romântico, fofo, agradável. Sempre dava abraços, sempre mandava mensagens e músicas. O sexo, na unica vez que aconteceu, foi talvez um dos melhores que ele ja teve. Mas, e claro que sempre tem um "mas", esse segundo cara ja era casado. Casado com um cara super bacana. Que juntos viviam uma vida feliz.
Eis que entao, em uma quinta-feira qualquer, ele percebeu que estava tudo errado. Ele tinha falado com ambos naquele dia. O primeiro foi carinhoso de uma forma fria e distante, como sempre. O segundo foi extremamente carinhoso, também como sempre. E seu coração parecia estar feliz vivendo esse menàge. Mas daí a noite chegou, e ele percebeu que mesmo tendo dois homens para amar, ele dormiria sozinho. Que mesmo com tanto, ele ainda tinha tão pouco. E que, no fim das contas, nenhum dos dois era capaz de resolver seu maior problema: a solidão. Mesmo tendo dois amores, ele dormiu sozinho. Nos seus sonhos, mais uma vez sonhou com a sua casa, com seus amigos, com sua família. Com todos aqueles que ele amava e que lhe amavam de verdade. E ele acordou sozinho.
O dia seguinte foi parecido com todos os outros. O primeiro cara nao deu noticias, como sempre. O segundo cara mandou uma musica linda de bom dia. Também como sempre. Mas alguma coisa tinha mudado. Alguma coisa nele estava diferente. Ele nao saberia explicar, se entao lhe fosse perguntado. De vez em quando se pegava pensando em um, no outro, em casa. Queria um, queria o outro, queria ir pra Minas, mas Minas nao havia mais. E em sua cabeça se repetia a pergunta: E agora, José?

(essa estória ainda está sendo escrita)


Pimenta nos olhos dos outros

Depois de tanto tempo distante, ele finalmente encontraria o seu amor. Como ele havia esperado por esse dia! Passou os últimos tempos fazendo planos, criando espectativas. Talvez tivesse vivido os ultimos dias somente por esse momento. Sempre que algo de ruim lhe acontecia, ele respirava fundo e pensava que encontraria o seu amor, e que no fim tudo ficaria bem. Aquele dia, por exemplo, foi um dia em que tudo para ele deu errado. Mas ainda assim ele estava feliz, o amor estava por vir e isso, por si só, era suficiente para lhe deixar alegre e esperançoso.
Mas, talvez como tudo em sua vida, aquele encontro nao aconteceu. Primeiro ele esperou por uma mensagem, uma ligacao. Depois ele cansou de esperar e procurou. E, mas uma vez, seu amor se fez inatingível. Ate um certo ponto ele permaneceu esperançoso de que aquele momento ainda chegaria. Mas o momento nunca chegou. E quando ele se deitou para dormir, ele estava verdadeiramente triste. Triste pelo seu dia ter sido ruim. Triste por sua vida ser uim. Mas principalmente, triste por nao ter encontrado aquele que era, para ele, a solução dos seus problemas. A esperança de algo melhor. Eles nao se encontraram, ele dormiu sozinho, e a vida continuou. Ele prometeu pra si mesmo nao ter mais esperança, mas no fundo ele sabia que seria incapaz de cumprir essa promessa. Porque ele amava, e quem ama faz mesmo essas coisas.
O que ele nao sabia, no entanto, é que seu amor estava com outro amor. Seu amor estava feliz, e não era por causa dele. Mas por causa de outro. Naquele dia seu amor nao quis vê-lo, pois tinha outros planos. E para o seu amor, ele não era tanto assim. Ele amava demais, mas o seu amor nao correspondia a altura. Talvez por estarem em momentos diferentes. Ou simplesmente talvez por ser a vida assim, e essas coisas ninguem pode explicar.
Ele não sabia, e talvez nem quisesse saber. Talvez, se soubesse, teria sofrido muito mas teria aprendido. E teria esquecido mais facilmente. Mas queria ele esquecer? Queria ele aprender? Talvez, tudo que ele precisava naquele momento era daquela ilusão, daquele ideal, daquela esperanca. Algo que o movesse. E transformar essa esperança em desilusão seria muito perigoso para ele.
Mas, em um mundo paralelo e hipotético, onde ele descobriu a verdade, ele chorou. Ele chorou e gritou e se olhou no espelho com raiva. Se chamou de idiota, e disse que nunca mais se apaixonaria por ninguém. So que quando lhe veio outra vez a razão, ele percebeu que o mesmo acontecia com ele. Ele tambem tinha alguem que lhe amava, mas que esse alguem tinha outro que amava esse alguém. Ele também amava esse alguém. E ele não se importava com a terceira pessoa, afinal ele gostava de amar e ser amado. Ele precisava ser amado, e ainda que um terceiro sofresse, ele estaria feliz. E muitas vezes deveríamos ser egoistas e pensarmos na nossa própria felicidade.
Porque no fim, em um relacionamento, sempre tem alguem que ganha e alguem que perde. Alguem que ama e alguem que é amado. E assim é a vida, como uma quadrilha: "João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém. João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história."

(essa estória também ainda está sendo escrita)

segunda-feira, 30 de maio de 2011

O topo do meu Everest

Uma das coisas que acho mais interessante entre nós, humanos, é a nossa capacidade de sonhar. Não me refiro aqui a sonhar durante o sono, mas a sonhar acordado. Almejar. Querer sempre alcançar coisas diferentes e, na maioria das vezes, maiores. Isso pode ser extremamente benéfico ou perigosamente maléfico. Eu explico.
Alguém que vive sonhando acordado acaba perdendo a vida, o momento. Tem sua cabeça tão entretida e preocupada com o que há de vir, que acaba não aproveitando o caminho. E isso, além de ser triste, é muito perigoso. A pessoa pode cair numa realidade paralela, numa vida de fantasia, não sabendo mais distinguir o que é verdadeiro do que é inventando. E talvez a pior consequência que isso pode trazer é o fato de essa pessoa começar a se decepcionar com tudo o que é real. Been there, did that.
Nos últimos meses, tenho vivido de sonhos. Sonhos sobre tudo. A mudança para outro país, o aprendizado de uma nova língua, uma nova cultura e um novo modo de vida, o parceiro ideal, o trabalho dos sonhos... Grandes expectativas levam a grandes decepções. Mas não adianta dizer isso aqui, você só aprende vivendo. Quantas vezes ouvi as pessoas que eu amo me alertando para os perigos de se sonhar demais, e ainda assim eu o fiz. E a realidade foi normal demais para mim. Cheguei a beira do precipício da depressão, e essa talvez é a causa principal. Mas não caí.
Puxando a sardinha pro meu lado, eu gosto de me definir como uma fênix. Pode ser brega, mas eu sempre consigo me erguer quando chego ao fundo do poço. Agora é mais um exemplo claro disso.
Berlin não foi tudo aquilo que eu esperava, mas isso já era de se esperar. E eu sinto saudade de muita gente, de muitos momentos, tudo o que eu deixei para trás. E fui eu que escolhi fazer isso. Tenho que arcar com minhas consequências. Mas, por outro lado, Berlin é sensacional. É tudo o que eu sempre quis, e cada dia eu tenho mais certeza que tomei a decisão certa. Algumas vezes me pego pensando se não deveria ter vindo antes. Mas a resposta a essa questão é e sempre será impossível. E, apesar de as vezes não demonstrar, eu estou muito feliz agora. Estou vivendo o meu sonho, estou onde eu devo estar, no momento que eu devo estar.
Sonhar pode ser incrivelmente delicioso, se feito sob moderação. Um homem saudável nunca está perfeitamente satisfeito com sua vida. Ele sempre quer mais, ele sempre procura mais. E é esse ideal da procura que nos leva adiante, que nos faz viver a cada dia. Eu também tenho os meus sonhos, e devagarzinho estou aprendendo a colocá-los no lugar certo, o lugar que eles devem ocupar na minha vida.
Há alguns meses atrás eu vegetava no sonho de viver em Berlin, e agora estou dentro desse sonho. Agora, aqui vivendo, eu começo a construir outros sonhos. Sonhos mais altos, mais ambiciosos. Berlin já não me é mais suficiente, mas de uma forma positiva. Amo isso aqui, mas quero mais da vida. Tudo o que eu sonhei e planejei está dando certo, talvez não tão rápido como eu esperava, mas a minha ansiedade é também algo que eu estou aprendendo a lidar com. Agora, eu vivo Berlin. Minha cabeça, meu coração, minha vida estão aqui. Mas eu quero mais.
E para conquistar o que eu quero, não adianta sentar e pensar em como vai ser bom. Tem que trabalhar pra isso, tem que fazer acontecer. E eu resolvi me movimentar, eu resolvi fazer minha vida seguir o rumo que eu quero. Afinal, ninguém tem mais controle de mim mesmo que eu. E se eu deixar que alguém o tenha, estou cometendo um erro. Um erro fatal.
Imagino a sensação de chegar ao topo do Everest. Acredito ser uma euforia inicial, que pode durar algumas horas ou até mesmo dias, seguida então por uma profunda depressão. E agora, o que eu vou escalar? Pra onde mais vou subir? Uma vez pensei que Berlin seria meu Everest, mas aqui estando percebi o quanto estou errado. Ainda tenho muitas montanhas a escalar, muito a conquistar nessa vida. Sem negar ou minimizar meu passado, estou apenas começando. E tudo o que eu já fiz e já conquistei vai me servir de base. E eu vou conseguir, sabe porque? Porque eu sempre consigo tudo o que eu quero. Pode demorar, pode vir torto, pode não ser perfeito. Mas eu consigo. E, mais uma vez, eu vou conseguir.
Pode apostar.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

O paradoxo de Ícaro

Ultimamente tenho pensado muito em você. Inclusive acho que já te disse isso. Muito estranho, sem dúvida. Mas não totalmente incompreensível. Você ficou do lado de lá do Atlântico, mas o sonho que eu construi de você veio comigo pro lado de cá. E a culpa é minha, eu te criei perfeito e você acabou se mostrando um cara normal. E isso pra mim foi pouco, eu esperava mais. Eu esperava demais.
Esse é o grande problema da minha vida, eu construo e desconstruo os meus amores. E no fim, os destruo em mim. Com você não foi diferente, e com os que aqui encontrei tampouco. Minha mente e meu coração preferiram se retirar da vida real, preferiram criar uma fantasia digna dos filmes da Disney. Dentro de mim tudo acontece sem que nada realmente se passe na vida real. Sentimentos, casamentos, desilusões, tragédias e finais felizes. E você sequer tomou alguma parte disso.
Eu vejo as suas fotos, e percebo que sinto falta. Não de você, mas da pessoa em que te idealizei. Porque eu não te conheço de verdade. Eu não sei quem você é, o que você gosta, o que faz ou como é a sua vida. Eu nunca soube, e nem sei se saberei. Eu sinto saudade da sua imagem em mim. Do que eu senti quando te imaginei. E isso foi se apagando devagar quando você se tornou real, de carne e osso, som e cheiro... A realidade crua e vermelha sobre mim era talvez normal demais.
E aqui estou eu, repetindo os mesmos erros com mais um que poderia ser o homem da minha vida. Alguém que eu encontrei do lado de cá e que é tudo o que eu sempre quis. Daí que eu encontro alguém que se encaixa em minha fantasia, que se adequa aos meus padrões de bom e ruim. E isso me assusta e intimida. E eu faço tudo errado mais uma vez. Mais uma vez estou cometendo os mesmos erros. E sou um imbecil, porque nem mesmo sei como aprender com meus erros. Não sei sequer usá-los ao meu favor, pra aprender a ser um cara melhor. E talvez achar alguém com quem construir uma vida.
Alguém normal, de carne e osso. Que come, bebe, respira e solta pum. Alguém que não tenha só qualidades, mas defeitos. E que eu saiba ver graça nisso também. Mas, enquanto não consigo descer do meu Olimpo, te castigo pela ousadia de, como mortal, tentar chegar muito perto dos deuses. E assim como Ícaro, também vivo entre o paradoxo do sonho e da morte. Pois quanto mais eu sonho em viver com alguém, mais eu aumento a possibilidade de ficar sozinho.

sábado, 14 de maio de 2011

Amor, Love, Liebe... E o que se perde na tradução.

[esse texto foi originalmente publicado no meu blog sobre Berlin - http://ausbr.blogspot.com]



Talvez a experiência mais inusitada que vivi até agora em outro país foi a de me envolver com alguém. Dizem que a linguagem do amor é universal, mas sou obrigado a discordar dessa afirmativa. Depois de 2 meses e meio em Berlin, percebi que ter um relacionamento por aqui é uma tarefa difícil, ainda mais para um Brasileiro.

Venho de um país onde as pessoas são calorosas e intensas. Gostam de abraçar, se apaixonam a primeira vista, em questão de dias já estão envolvidos até o pescoço com o outro. No Brasil, as pessoas se olham, flertam, conversam umas com as outras. Em Berlin é outra história. Aqui as pessoas são frias, secas e individualistas. Pelo menos no primeiro contato. E o jeito "brasileiro" de ser assusta, e assusta muito aos alemães. Flerte em balada acontece, mas não é como eu estou acostumado. É uma coisa mais formal e mais fria. E o jeito mais fácil de conseguir alguém por aqui é por um website chamado GayRomeo, seja para uma simples trepada, seja para casar e construir uma vida. Todo gay aqui tem um perfil no site, e é lá que eles se soltam... Algo tão impessoal e ao mesmo tempo tão indispensável para eles.

A língua é outra barreira. Eu ainda não falo muito bem Alemão, e gente que fala Português por aqui é algo raro. Mesmo Português de Portugal. Então as conversas tem de ser desenvolvidas em Inglês. Da pra imaginar a confusão, afinal essa não é a língua materna de nenhum dos dois lados - nem eu nem eles. É óbvio que muito se perde na tradução. Talvez por não saber uma palavra, talvez por não saber como se expressar. Ou talvez pelo simples fato de tentar dizer algo e o outro entender um algo completamente diferente. Algo comum em uma comunicação, e que pode ser severamente agravado em uma comunicação estrangeira.

O background é mais um fator que pode ajudar ou atrapalhar tudo. Se dois brasileiros podem ter backgrounds completamente diferentes, imagine um brasileiro e um alemão... Coisas e ações que para mim são normais e perfeitamente compreensíveis, podem ser completamente anormais para eles. E aqui volto a bater na tecla de como os brasileiros são intensos e calorosos. Com meu último namorado, em uma semana juntos já estávamos namorando, conhecendo os amigos e as famílias e trocando juras de amor. Aqui talvez você passe uma vida inteira com alguém sem que nada disso aconteça. E isso é normal pra eles. E se você falar cedo demais em paixão, relacionamento, compartilhar, prepare-se para que eles te olhem com a cara de interrogação e te cortem com um balde de água fria. Isso num cenário positivo, pois pode acontecer do alemão se assustar e sair correndo. E nunca mais te dar notícias.

Por um lado, tenho tido extrema dificuldade em me adaptar a esse estilo de vida afetiva. Eu sou um cara romântico e carinhosos, gosto de fazer o cara que está comigo feliz, gosto de dar presentes, fazer surpresas. E parece que por aqui isso é mais um defeito que uma qualidade. Mas por outro lado, eu já estou começando a entender a forma dos alemães lidarem com o coração e talvez já esteja sendo absorvido pelo sistema deles. Vejo meus amigos brasileiros me falaram sobre paixões instantâneas e avassaladoras no primeiro encontro e já tem uma parte de mim que me diz "que absurdo, no primeiro encontro?" Até uns dias eu era assim. E agora eu tenho que jogar de acordo com as regras daqui. E tem horas que eu até penso que faz algum sentido.

Ainda tenho muito a aprender por aqui, mas nem tudo está perdido. Dizem que o sonho de todo alemão é se casar com um brasileiro. Que eles procuram nos brasileiros o que eles não encontram nos outros alemães. Pode ser que a melhor ideia é me adaptar ao jeito daqui, sem perder o meu jeito de lá. Ser um meio termo entre o alemão e o brasileiro, tentando preservar as melhores características dos dois lados. Porque acima de tudo, eu não quero mudar. Eu não quero deixar de ser um cara fofo e carinhoso. Então o melhor caminho pra mim é continuar sendo o brasileiro intenso, mas com meus momentos de alemão frio e distante. E aprender essa língua logo, pra derrubar mais uma barreira.

Na verdade, ainda tenho muito pra aprender e percorrer aqui. Ainda estou no começo da caminhada. E se vai dar tudo certo? Não sei, isso só o tempo vai dizer.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

O fundo do U

Ontem eu cheguei ao fundo do poço. Acho que foi o pior dia, desde que cheguei em Berlin. Juntou um tanto de coisa, um tanto de coisa que me derrubou. A solidão, que foi atenuada por um feriadão que me me entediou profundamente. Solidão de estar sozinho, em um lugar onde eu ainda não tenho amigos de verdade (isso leva tempo, tempo normal). De estar em um lugar onde eu não falo a língua, não tenho o que fazer, não tenho pra onde ir. Em BH eu pelo menos tinha Michele ao meu lado, e não importa o quão só eu estivesse, ela sempre estava lá ao meu lado, demonstrando seu amor incondicional. Aqui não tenho nada, nem ninguém. Só tenho a mim mesmo. E de vez em quando eu me canso de mim, das minhas músicas, da minha comida, das minhas ideias, dos meus sonhos.
Nos últimos dias conheci um cara, um cara que virou meu mundo de cabeça pra baixo. Alguém que pela primeira vez em muito tempo foi legal comigo, demonstrou afeto, carinho, interesse. Alguém em que eu depositei todos os meus medos e minhas esperanças. E ontem eu experimentei a sensação de não mais tê-lo, e isso me doeu até o ossos. Quando finalmente eu havia pensado que tudo tinha se resolvido, que eu tinha encontrado o meu porto seguro, foi aí que veio a vida e me passou uma rasteira. Eu meio que já esperava que isso acontecesse, acho que com o passar do anos me acostumei a perder as pessoas que eu realmente quero ao meu lado. Não sei se o perdi de verdade, ou se ainda tem muito a acontecer. Só sei que ontem eu senti que o tinha perdido pra sempre. E isso me machucou ainda mais.
Só que agora eu não tenho pra onde correr. Tenho amigos pra me confortar no skype ou no chat do facebook/gmail, mas não tenho quem me dar um abraço apertado e me fazer acreditar que tudo vai ficar bem. Tenho que lidar com minha solidão e minhas desilusões sozinho. E estou sim um pouco desiludido. Desiludido com o meu sonho de vir pra Berlin. A cidade é espetacular, a experiência tem sido fantástica. Mas tem sido muito mais difícil que eu imaginava. Eu imagino que isso seja normal, afinal os sonhos só mostram o lado bom. Senão seriam pesadelos. E eu sonhei com um mundo perfeito, e mundos perfeitos só existem mesmo nos sonhos. E a realidade é outra história.
Mas eu não vou desistir, não vou entregar os pontos e voltar atrás. Eu sei que todos me receberiam de braços abertos, mas eu sempre me olharia no espelho e me acharia um idiota. Tenho muito orgulho pra desistir. Tenho muito orgulho pra voltar atrás. E sabe, no fim vai dar tudo certo. Eu tenho certeza que vai. Porque o bom de estar no fundo do poço é saber que não tem mais como ficar pior. Cheguei ao meu pior estágio, e daqui pra frente acredito que tudo tende a melhorar. Eu acredito, e isso é o mais importante. Em todos os momentos em que eu fiquei triste e deprimido, eu nunca parei de acreditar. É a minha vida, é o meu futuro, e só eu posso fazer isso acontecer. Os momentos difíceis servem principalmente pra nos fazer mudar, melhorar, aprender. E eu quero muito melhorar! Já tenho a garra e agora vou buscar a força. E se eu me dedicar a isso, não tem o que dar errado.
Estou no fundo do U, e daqui pra frente a tendência é subir novamente. Aguardem notícias.

domingo, 27 de março de 2011

Intermezzo

Sentado a frente do Portão de Brandemburgo, em uma Berlin fria e longe de tudo e de todos, eu aproveito os fracos raios de um sol que mais brilha que esquenta. No mesmo lugar onde há quase um mês atrás eu chegava pela primeira vez, maravilhado, em êxtase puríssimo, e de onde eu nunca imaginaria as coisas que a mim iriam acontecer. É aqui que eu me deparo mais uma vez com a felicidade clandestina muito bem descrita um dia por Clarice Lispector. E é assim que eu começo a entender a minha vida.
Já li esse conto mais de cem vezes, e cada vez que leio ele me faz mais sentido. Eu me identifico cada vez mais. Algumas vezes me confundo, não sei se é Clarice que escreve ou sou eu que sinto. Nunca foi fácil, e eu tenho a imensa impressão que nunca será. Nunca nada será fácil pra mim. A felicidade, ela sempre vai ser clandestina na minha vida.
Não posso reclamar, seria injusto da minha parte se o fizesse. Eu sempre tive o que quis, nunca um desejo me faltou. Mas ele sempre veio quebrado, ou pelo menos diferente. Sempre veio torcido. Distorcido. Eu já tentei lutar contra isso, já tentei ser e fazer diferente. Mas algumas coisas são muito fortes, algumas coisas nunca vão mudar. Não importa o quanto eu queira, não importa o quanto eu tente. E serei sempre refém de uma felicidade complicada, impossível, inalcançável. Life is not fair.
"Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez. (...) Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do "dia seguinte"com ela ia se repetir com meu coração batendo. (...) Mas, adivinhando mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra. (...) Meu peito estava quente, meu coração pensativo. Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada."

Não, não preciso dizer mais nada.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Dias, meses, anos - Parte 2

É, eu ainda consigo contar os dias. Minha memória sempre me avacalha, mas quando o assunto é você ela insiste em funcionar perfeitamente. E todos esses dias, meses, anos, todos eu perdi tentando ser um cara bacana o suficiente para estar ao seu lado. Em tudo o que aconteceu na minha vida desde aquele dia tem uma pontinha de vontade de te surpreender. De te mostrar que eu consegui.

Agora eu consigo perceber o quão idiota eu fui, e por quanto tempo. Eu fui só mais um pra você, alguém que talvez você nem inclua na sua lista. E a culpa é minha, porque fui eu que te fiz semideus. Fui eu que te coloquei num altar e resolvi te adorar acima de todos os outros. E fui eu que não consegui dar valor a alguém que realmente gostou de mim, porque não era você. Porque não me desprezava como você o fez. A culpa é minha, e não sua. De não conseguir me relacionar com ninguém sem ter a sombra do seu fantasma. Quando tudo está bem, em paz, quando eu penso que finalmente esqueci e que tudo vai dar certo, você aparece como se para jogar na minha cara que eu não mereço ser feliz por completo.

Agora, longe de você, eu consigo pensar com clareza em o quanto você me é nocivo, e o quanto eu te quero longe da minha vida. Você é minha obsessão, é o meu eu perfeito, é o que eu quero mas não posso ter. Nunca poderei. E eu te valorizo demais, quando em troca você sequer se lembra que eu existo. Eu não faço parte do seu mundo, nunca fiz. Entrei nele por acidente, e quando você percebeu, tratou de arrumar a casa e me colocar no meu devido lugar. E já se foi tanto tempo. Aqui estou eu, mais uma vez. Desperdiçando linhas por você. Porque por você, tudo é desperdício. Você não vale a pena. Mas pena que me custou tanto tempo para perceber.

Tive uma vida sensacional, não posso negar. Tenho uma vida sensacional. E se tivesse que te agradecer um dia, talvez te agradeceria por me ajudar a ser quem eu sou. Mas acho que nem isso você merece. Nem mesmo desprezo eu te daria, porque seria muito para alguém a quem eu sou tão pouco. Porque todo mundo sabe, todo mundo sempre me disse. Mas eu sou burro, e um tanto esperançoso. Fraco, diriam outros. Idiota. E se eu ainda conto os dias, é porque eu ainda preciso pagar pelo meu erro. É porque ainda não fui capaz de aprender. Mas está chegando ao fim.

Eu precisei viajar meio mundo pra perceber o que era óbvio, o que estava diante dos meus olhos por tantas vezes, por tantos anos. Eu fechava os olhos, fazia vista grossa, olhava para o outro lado. Agora eu resolvi enxergar. É difícil, beira o impossível. Estou viciado em você. Em te colocar a culpa por tudo. Em acreditar que um dia vai dar certo com você, quando tudo parece dar errado. Estou viciado em te querer. Mas você é efémero, você nunca está aqui de verdade. Você só existe na minha cabeça. E eu preciso te matar em mim. Para que eu consiga viver.

Agora começo novamente a contar. Só que daqui em diante, conto os dias sem você.

sábado, 12 de março de 2011

O choque de acordar a meio mundo de distância de casa - Parte 1

É engraçado como quando estamos longe de casa, todos os sentimentos ficam maiores. A felicidade é muito feliz, a saudade é muito saudosa. Existe o choque cultural, onde as pessoas, os lugares, tudo é diferente. E entre tudo isso aparecem coisas que são parecidas, até mesmo iguais. Mas na cabeça e no coração acontecem outras explosões...
Caminhando pelas ruas frias de Berlin, eu sinto um misto de sensações. Que algumas vezes são tão intensas que me fariam gritar, dançar, pular... Eu fico quieto, mas é interessante como eu nunca senti isso antes. Ou se senti, nunca fui capaz de perceber. Talvez porque nunca fiquei sozinho de verdade. E aqui eu estou sozinho. Só tenho a mim mesmo. Conheço algumas pessoas, tenho vários candidatos a amigos. Mas todos eu conheci um dia desses, há pouco tempo. Estão sendo super acolhedores, mas ainda não são meus amigos de verdade. E não é por mim nem por eles, essas coisas demoram mesmo. É o tempo normal.
De vez em quando bate um medo. Um imenso medo. Medo de acontecer alguma coisa ruim e eu não ter para onde correr. Mesmo que eu esteja precisando só de um colo. Tenho certeza que as pessoas que já conheci aqui vão me dar o maior apoio, vão entender o que eu estou passando. Provavelmente eles também já passaram por isso. Mas isso me faz pensar em o quanto eu fui corajoso. E ao mesmo tempo egoísta. Meus amigos estão lá, sempre torcendo por mim, sempre vibrando em cada foto ou comentário no facebook. E eu simplesmente abandonei todo mundo pra viver sozinho, em um lugar distante, onde eu não conheço ninguém e de onde talvez eu nem volte. Amigos de verdade, que eu talvez tenha escolhido ver só de vez em quando, enquanto eu estiver visitando... Isso me faz pensar muito. E me assusta, e me deixa triste.
Mas também tenho me sentido muito feliz. Talvez seja somente um distúrbio bipolar. Só sei que eu me sinto feliz de ter conseguido, de estar aqui, de estar realizando esse sonho. De viver em uma cidade linda, organizada, com pessoas espetaculares, receptivas, acolhedoras. De ter a oportunidade de crescer profissionalmente e pessoalmente. Aprender a me virar sozinho. Construir uma vida nova e tentar consertar os erros que eu já cometi na vida. Tudo seria perfeito se não fosse a saudade. Mas também a saudade é diferente. Não é saudade de voltar, mas de trazer todo mundo pra viver aqui comigo. Talvez sejam só os primeiros dias.
Saudade, por exemplo, é uma coisa muito engraçada. Deve ter havido uma época em que ir pra fora do país era como morrer. Perdão pelo exemplo, mas a minha despedida no aeroporto parecia o meu funeral. Meus pais choravam compulsivamente. E daí, com uma semana e pouco que estou aqui, meu pai já disse que está falando comigo com maior frequência agora, que estou a meio planeta de distância. Antigamente devia ser impossível fazer contato, mas hoje é tudo muito fácil, simples. Porque mesmo longe, eu estou totalmente acessível através da internet. Meu telefone está permanentemente conectado e estou a um sms de distância de todo mundo. Skype me permite ouvir, falar, ver e ser visto. Tantas redes sociais, tantos recursos, parece que estou pertinho de todo mundo. E que todo mundo está pertinho de mim. Claro, não dá pra ir correndo encontrar alguém, isso demoraria pelo menos umas 20 horas... Mas dá pra continuar a estar presente.
Talvez por isso quem está me fazendo mais falta é a Michele. Não se ofendam, com todos eu posso falar e ver e etc, mas não com ela. Ela não entenderia porque somente a minha voz está presente. E eu não conseguiria explicar. Eu nunca consegui explicar de verdade que eu estava indo embora. E essa é a minha maior mágoa, porque esse sim foi um verdadeiro abandono.
Por isso eu tenho certeza que eu vou voltar. Pelos meus amigos, pela minha família, pela Michele. Aqui, longe de todo mundo, eu percebi o quanto todo mundo é importante pra mim e o quanto todos me fazem falta. Não prometo voltar pra ficar, isso aqui é muito bom! Talvez seja só pra visitar. Mas se eu tiver que voltar pra morar, eu vou sempre ter a certeza que eu vou estar ao lado das pessoas certas...

quinta-feira, 3 de março de 2011

Sincero demais com quem é de menos

Todo mundo que me conhece bem sabe que eu sou um cara sincero. As vezes, até mais que deveria. Pro bem ou pro mal. Enfim, vou ser sincero mais uma vez. Acho o anonimato uma covardia. Sim, estou falando para você que comenta de forma anonima no meu blog. Ok, anonima não, mas sob um pseudonimo qualquer.
Você precisa aprender a ter coragem de dizer o que pensa! Você precisa aprender a assumir o que faz, seja para receber elogios ou para levar a culpa. É o que você pensa, então porque não dizer para os outros que você pensa assim? Porque andar na sombra, fingindo deixar de ser alguém que você é? Essa é a sua natureza, e se você não consegue conviver com ela é porque ela te faz infeliz. Se a Dani foi especial pra mim é porque ela foi ela mesma, mostrou o jeito dela e com esse jeito me conquistou. Você diz que eu sou muito especial pra você, mas um dia você vai embora e eu também, e a sua história comigo vai morrer junto. É isso que você quer?
Aqui vai um conselho de amigo: você não vai mudar. Pode melhorar, lapidar, mas mudar você nunca vai. Nunca vai deixar de ser você mesmo, como você é. E se mudar, vai perder sua essência, sua identidade. E vai perder a graça... Eu acho que você tem a sua graça, o seu encanto. Todo mundo tem, porque você não teria? Talvez, se você mostrasse um pouco desse encanto para o mundo, talvez assim vc descobriria que alguém vai gostar de você exatamente como você é, sem por nem tirar. Te falo por experiência própria...
Enfim, a escolha agora é sua. Ou você se mostra, dá a sua cara a tapa e chuta a porta do SEU armário... Ou você vive escondido, na sombra de algo ou alguém. E vai passar a vida inteira de uma forma ordinária. E cara, não tem nada pior que ser ordinário, ser comum e normal. Ninguém lembra de gente comum.
Assuma nos comentários, assuma só pra mim por email (behink@gmail.com) ou continue vivendo escondido. Eu fiz minha parte. Agora é com você.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Começo do fim

Ir embora sucks. Queria levar todo mundo na bagagem comigo. Cansei do Brasil, mas aqui tá tudo o que eu já construí na vida. Fico mal de deixar todo mundo pra trás. Uma pontinha de arrependimento bate em mim. Eu vou sentir sua falta e vai me visitar são as frases que eu tenho mais falado nos últimos dias.
Porra, que saco ter que ir embora! Eu amo BH, amo meus amigos, amo Michele e amo minha família daqui. Arghhhhh!
Triste, mesmo. Quero chorar.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Thank U

Essa semana meu ipod tocou Thank U, da Alanis, e meu pensamento voou lá para 2001, meados de Fevereiro. Quase exatos 10 anos atrás. Lá estava eu, sentado na calçada de um bar de quinta categoria, em frente a um ponto de ônibus, em algum lugar entre a cidade nova e a nova floresta. Tinha acabado de voltar de Confins, e nas minhas mãos carregava o Supposed Former Infatuation Junkie. Naquela época eu só conhecia Thank U, e tinha ganhado aquele CD de uma pessoa espetacular, que em menos de dois meses se tornou indispensável na minha vida - e que ainda é indispensável até hoje.
Daniela tinha acabado de embarcar para Sevilla, passaria seis meses polindo o Espanhol e o Flamenco. Aquele dia eu passei junto dela na sua casa, ajudando a fazer as malas e fofocando. Depois fui com ela até o aeroporto. E mesmo naquele momento triste, sentindo uma imensa falta e querendo chegar em casa correndo para ouvir logo Thank U e lembrar do quanto tudo nos últimos 2 meses tinha sido sensacional, mesmo assim eu ficava me perguntando como seria a sensação de largar tudo e ir embora.
Aquela realidade era tão distante de tudo, tão louca e ao mesmo tempo incrivelmente tentadora. Eu tinha certeza que um dia seria eu, que chegaria a minha hora de ir também. Que eu faria como a Dani fez. Eu não fazia ideia do quanto tempo demoraria, mas naquele dia eu plantei semente da ideia na minha cabeça: eu preciso ir morar no exterior.
Lá se vão 10 anos, e agora chegou a minha vez. Talvez naquela época eu não pensava que seria tão demorado, mas assim é a vida. As coisas precisam acontecer no tempo certo, isso é algo que a idade me ensinou. Agora é o meu tempo, é a minha vez. E eu to tranquilo...
Mentira, eu to empolgado até o último fio de cabelo!

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Epitáfio

Hoje eu só quero pedir desculpas. Aos meus pais, aos meus amigos, meus cachorros e minha Belo Horizonte. Pedir desculpa a minha Michele. Desculpa a todos vocês que estão aqui e a quem eu estou abandonando. Sim, eu estou deixando vocês todos para trás e partindo atrás de um sonho. Um sonho que diriam ser um sonho louco. Porque assim, num estalar de dedos, eu vou trocar tudo o que eu construí aqui por duas semanas de lugar para morar e alguns poucos milhares de euros na carteira.

Eu sou o maior culpado de ter que ir embora. Eu fui um incompetente ao construir a minha vida aqui. Eu errei a mão em diversos momentos, repeti os mesmo erros e bati com a cabeça na parede por inúmeras vezes. E daí que eu cheguei num ponto onde eu não vejo mais caminho viável pra mim. Não aqui, em Belo Horizonte. Não aqui, no Brasil. Voltei meus olhos pro outro lado do Atlântico, para uma segunda possível casa. Para Berlin, a maravilhosa e dourada Berlin.

Berlin é, para mim, um sonho. Uma esperança. Aquela esperança das coisas se resolverem. Berlin é a minha megasena. É onde eu estou me dando a chance de recomeçar do zero. E como é confortante a ideia de começar do nada outra vez. A ideia de poder fazer tudo de novo, e dessa vez do jeito certo, colocando em prática tudo o que eu aprendi nos erros do passado. Eu vou tentar refazer. Eu vou tentar ser bem sucedido em tudo o que eu não fui aqui.

Eu vou pra Berlin, e quando eu voltar eu vou ter mais grana do que tenho hoje. Quando eu voltar, vou ter um corpo mais bacana e aquele menino que me deu um fora vai vir atrás de mim. Quando eu voltar, eu vou ter viajado mais, conhecido mais pessoas e lugares, me divertido mais, saído pra mais baladas… Quando eu voltar, eu quero voltar uma pessoa muito melhor do que sou hoje. Pode ser tudo uma ilusão, mas eu preciso acreditar nessa ilusão. Eu preciso ver um novo caminho, eu preciso seguir em frente. Eu preciso consertar os erros, mudar as coisas, me encontrar novamente e construir a minha vida.

Só que pra isso eu vou ter que deixar vocês todos para trás, e vocês não tem culpa disso. No final das contas, vocês é que vão pagar pelas minhas burradas e pela minha obstinação em fugir da minha vida errada para uma vida nova. Uma vida nova onde vocês não vão fazer parte, não da forma como fazem hoje. Não é justo com nenhum de vocês, e 'q por isso que eu peço desculpas. Do fundo do coração.

Desculpa por ter que ir embora. Desculpa por não ser perfeito. Desculpa por qualquer coisa. Não posso prometer voltar uma pessoa melhor. Mas posso prometer tentar. Por mim, sim. Mas principalmente por vocês.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Armários

Nunca chutei a porta do armário. Saí dele com convicção, mas a passos lentos. Um dia abri a porta, e isso foi o mais difícil. Nessa hora saí do meu próprio armário, contei pra mim mesmo o meu segredo: eu gosto de meninos. Hoje me parece uma bobagem, mas foi complicadíssimo para mim aceitar o fato de que eu não sou aquilo que esperam que eu seja. Aquilo que eu mesmo esperava e tentava ser. Por mais patético que possa parecer, eu tentei ser heterosexual. Mas esse armário já se explodiu, não tenho mais que falar dele. Não hoje, pelo menos. Hoje quero falar de outros armários.
Certa vez vi alguém falar sobre auto-imagem residual em um filme. Algo como a imagem que alguém projeta de si mesmo. Essa imagem é talvez o meu principal armário. É o que mais me prende. É quem me faz correr atrás do que eu quero ser. Algo como uma meta, um objetivo de vida. Esteticamente falando.
Por outro lado, sou um cara desleixado ao extremo. I couldn't care less about myself. Isso é resultado de um excesso de auto-confiança e de boa auto-estima. Me acho tão sensacional que nem preciso mexer com minha aparência. Mesmo que meu cabelo esteja grande, minha barba crescida de uma forma desorganizada, minha barriguinha que não é tão inha assim, um peito digno de sutiã... Mesmo assim eu sou lindão e pegador. Então pra que mexer?
(Não é falta de humildade, é simplesmente como funciona a minha cabeça. E não vou usar desse parêntese para explicar minha auto-estima e auto-confiança porque não é o caso. E também não incluo aqui falta de higiene, e se você pensou nisso você não me conhece at all.)
Eu sou gordinho, sempre fui gordinho e suspeito que sempre serei. Ja tive barriga tanquinho, ja fui fortinho e saradinho. Mas pra isso eu não comia, malhava 24/7, vivia escravo da beleza, desmaiava por falta de alimentação. Passado negro, sim eu tenho passado negro. Enfim, sempre fui gordinho. E sempre serei. So me falta agora admitir isso, pra mim mesmo. Ser sarado not gonna happen for me! Eu ganhei e ganharei várias coisas nessa vida, mas essa eu perdi. E bola pra frente, pô!
Não é fácil pra mim admitir isso. Esse é um dos meus maiores armários, e eu tenho que conseguir sair dele. É minha nova meta, meu novo objetivo. Conseguir admitir pra mim que eu vou ser um gordinho, e que mesmo assim eu vou pegar geral. Preciso me cuidar mais, mas me cuidar da forma certa. Não é comer de tudo o que eu quero quando eu quero e de repente fazer um regime, tomar remedios malucos e começar a correr 1 hora por dia durante uma semana, pra caber num vestido que eu quero tanto usar naquele casamento. Preciso fazer um exercício físico, mas pra ficar saudável. Preciso ser feliz sem culpa. Preciso chutar a porta desse armário e me libertar. Preciso aprender a ser urso.
Ah, se meu desabafo fútil te incomoda, I'm sorry. Like anyone cares.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Risco químico

Preciso te pedir desculpas. Não tive coragem de te falar pessoalmente, fui um covarde. Nunca tinha sido assim, sempre falava o que me vinha a cabeça, doesse a quem doesse. Mas com você, amarelei. Enfim, sem rodeios.
Desculpa por não ter sido como você esperava que eu fosse. Não funcionou, não sei porque... Só sei que não rolou. Tenho a impressão que foi recíproco, mas isso é pura especulação. Afirmo por mim: não rolou, mesmo.
A gente tinha tudo para dar certo, foi sensacional no papel. Na tela do computador, pelo facebook, pelo telefone. A expectativa foi fenomenal. Aí você chegou ao mundo real. No começo, sei lá. Foi estranho. Não foi tudo aquilo, não sei se você também achou... Você é um cara sensacional, bonito, interessante, inteligente... Mas a química, essa dona química. Ela é cruel algumas vezes. Foi comigo. Não teve química. Mas eu não estou escrevendo aqui para falar mal.
Eu só queria mesmo te pedir desculpas. Principalmente por não ter tido a capacidade de te dizer isso tudo cara a cara, como alguém de caráter deve fazer. E eu não consegui. Eu deveria ter mandado você viver a sua vida, ter dito que não foi, que não era o que eu esperava, que não teve química. Talvez tudo tenha ficado bem, talvez você também estivesse pensando o mesmo. E talvez pudéssemos ter construído uma bela amizade...
Desculpe-me, do fundo do coração. Espero que você leia, espero que você me entenda. Espero ser seu amigo, de verdade. E espero talvez um dia conseguir tomar uma cerveja com você. Em Ipanema ou na Savassi, ouvindo Tulipa Ruiz ou Ludov. Mas o mais importante, espero um dia fazer você rir comigo de tudo isso.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Lado B

Eu nunca fui de mendigar nada na vida. Eu sempre me dei muito bem com a solidão. E eu estou indo embora. Com essas 3 frases eu recomeço a escrever. Tive um momento de fraqueza, mas ele passou correndo e ventando. O quê? Reclamar de ter sido abandonado? Isso é no mínimo injusto com os montes de pessoas que gostam e realmente se importam comigo! Não, não fui abandonado e não morri ainda. Estou vivo, vivíssimo! Continuo nesse mundo, mesmo quando a minha cabeça viaja para outros. E se você não me considera mais, caguei. Para cada você tem pelo menos 3 outros que gostam de mim e fazem questão de mostrar isso a cada segundo.
Eu estou indo embora, então da mesma forma que os meu tempo aqui está acabando, o seu tempo comigo também está acabando. E eu tenho certeza que você vai sentir minha falta! Daí, quando eu estiver longe e só a internet puder me alcançar, nem me venha com saudades e chorumelas Você teve o seu tempo e não soube aproveitar. E não venha me dizer que fui eu que me isolei, porque mesmo que isso tivesse acontecido, seria o seu papel me trazer de volta.
Eu vou embora com a cabeça erguida, eu fiz o possível e o impossível. Por tudo, por todos. Só que chegou a minha hora, e aqui não tem mais nada pra mim. Vou levar todo mundo no meu coração e prometo voltar, talvez só pra visitar, talvez volte de vez e daqui nunca mais saia. Isso tá no futuro, e eu ainda não aprendi a usar minha bola de cristal. Só sei falar do presente. E no presente momento eu estou no mesmo local. Por pouco tempo.

E quando eu digo você, é pra você que sentiu a carapuça servindo... Não necessariamente um só.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Círculo vicioso

Pode-se dizer que eu fui isolado, mas uma contra-argumentação facilmente diria que eu quis me isolar. Já aconteceu, inclusive. Eu não sei quem começou o que, sei que eu cheguei no nada. Todo mundo ao meu redor está vivendo uma vida que não me existe. Eu deixei de existir na vida dos outros, e de certa forma deixei de existir também na minha vida. Ou, em termos leigos, deixei a minha vida fluir por mim. As horas, os dias, tudo passa. E eu continuo parado na inércia. Sem dinheiro, sem perspectiva, sem companhia. Somente com os meus cachorros. E com os meus sonhos.
Não, nem sonhos mais eu tenho. Não tem sido fácil conseguir dormir. E quando durmo, é tudo tão profundo que eu desligo desse mundo. E meus sonhos se tornam banais. Afinal, eu vivo de sonhar acordado. Minha imaginação já anda preguiçosa, talvez porque já não tenha mais o que imaginar.
Nesse exato momento eu estou perdido. Entre dois mundos. Estou boiando em pleno oceano Atlântico. Nem lá, nem cá. Há muito já deixei esse lado, mas ainda vai demorar um pouco para chegar ao lado de lá. Já deixei de lado os meus amigos, já morri da minha vida nesse mundo, já fui embora e já apaguei a luz. Mas meu corpo continua, como se ainda tivesse uma missão a ser cumprida. E eu não sei qual é, faço nem idéia. Só tenho idéia que tudo isso, essa solidão, esse isolamento, essa inveja das pessoas que vivem, tudo isso é minha culpa. Ou será que eu só decidi jogar a toalha e ir embora porque fui isolado e decidi tentar algo melhor?
Uma vida melhor é sempre tentadora, e a possibilidade de começar do zero é quase como ganhar na megasena. Ou isso é mais uma péssima metáfora, sei lá. Só que antes do próximo marco zero, enquanto flutuo sobre as ondas em algum lugar entre São Pedro e São Paulo, preciso descobrir se e o que há de errado comigo. Para que na vida nova tudo seja diferente. É o que eu tenho tentado sonhar. É o que eu vou tentar alcançar. E é onde eu tenho mais medo de falhar. E não adianta tentar prever, isso me daria mais insônia e mais fios brancos. Como se eu já não os tivesse o suficiente.
Ou como se alguém se importasse... Ah sim, Michele e Floquinho. Esse se importam, e muito. Esses veem de verdade, enxergam a alma. Nos enxergam vivos mesmo quando mortos. E são eles os que vão sentir de verdade a minha morte. Talvez já até esteja morto, e talvez por isso só os cachorros conseguem me ver.