sábado, 12 de março de 2011

O choque de acordar a meio mundo de distância de casa - Parte 1

É engraçado como quando estamos longe de casa, todos os sentimentos ficam maiores. A felicidade é muito feliz, a saudade é muito saudosa. Existe o choque cultural, onde as pessoas, os lugares, tudo é diferente. E entre tudo isso aparecem coisas que são parecidas, até mesmo iguais. Mas na cabeça e no coração acontecem outras explosões...
Caminhando pelas ruas frias de Berlin, eu sinto um misto de sensações. Que algumas vezes são tão intensas que me fariam gritar, dançar, pular... Eu fico quieto, mas é interessante como eu nunca senti isso antes. Ou se senti, nunca fui capaz de perceber. Talvez porque nunca fiquei sozinho de verdade. E aqui eu estou sozinho. Só tenho a mim mesmo. Conheço algumas pessoas, tenho vários candidatos a amigos. Mas todos eu conheci um dia desses, há pouco tempo. Estão sendo super acolhedores, mas ainda não são meus amigos de verdade. E não é por mim nem por eles, essas coisas demoram mesmo. É o tempo normal.
De vez em quando bate um medo. Um imenso medo. Medo de acontecer alguma coisa ruim e eu não ter para onde correr. Mesmo que eu esteja precisando só de um colo. Tenho certeza que as pessoas que já conheci aqui vão me dar o maior apoio, vão entender o que eu estou passando. Provavelmente eles também já passaram por isso. Mas isso me faz pensar em o quanto eu fui corajoso. E ao mesmo tempo egoísta. Meus amigos estão lá, sempre torcendo por mim, sempre vibrando em cada foto ou comentário no facebook. E eu simplesmente abandonei todo mundo pra viver sozinho, em um lugar distante, onde eu não conheço ninguém e de onde talvez eu nem volte. Amigos de verdade, que eu talvez tenha escolhido ver só de vez em quando, enquanto eu estiver visitando... Isso me faz pensar muito. E me assusta, e me deixa triste.
Mas também tenho me sentido muito feliz. Talvez seja somente um distúrbio bipolar. Só sei que eu me sinto feliz de ter conseguido, de estar aqui, de estar realizando esse sonho. De viver em uma cidade linda, organizada, com pessoas espetaculares, receptivas, acolhedoras. De ter a oportunidade de crescer profissionalmente e pessoalmente. Aprender a me virar sozinho. Construir uma vida nova e tentar consertar os erros que eu já cometi na vida. Tudo seria perfeito se não fosse a saudade. Mas também a saudade é diferente. Não é saudade de voltar, mas de trazer todo mundo pra viver aqui comigo. Talvez sejam só os primeiros dias.
Saudade, por exemplo, é uma coisa muito engraçada. Deve ter havido uma época em que ir pra fora do país era como morrer. Perdão pelo exemplo, mas a minha despedida no aeroporto parecia o meu funeral. Meus pais choravam compulsivamente. E daí, com uma semana e pouco que estou aqui, meu pai já disse que está falando comigo com maior frequência agora, que estou a meio planeta de distância. Antigamente devia ser impossível fazer contato, mas hoje é tudo muito fácil, simples. Porque mesmo longe, eu estou totalmente acessível através da internet. Meu telefone está permanentemente conectado e estou a um sms de distância de todo mundo. Skype me permite ouvir, falar, ver e ser visto. Tantas redes sociais, tantos recursos, parece que estou pertinho de todo mundo. E que todo mundo está pertinho de mim. Claro, não dá pra ir correndo encontrar alguém, isso demoraria pelo menos umas 20 horas... Mas dá pra continuar a estar presente.
Talvez por isso quem está me fazendo mais falta é a Michele. Não se ofendam, com todos eu posso falar e ver e etc, mas não com ela. Ela não entenderia porque somente a minha voz está presente. E eu não conseguiria explicar. Eu nunca consegui explicar de verdade que eu estava indo embora. E essa é a minha maior mágoa, porque esse sim foi um verdadeiro abandono.
Por isso eu tenho certeza que eu vou voltar. Pelos meus amigos, pela minha família, pela Michele. Aqui, longe de todo mundo, eu percebi o quanto todo mundo é importante pra mim e o quanto todos me fazem falta. Não prometo voltar pra ficar, isso aqui é muito bom! Talvez seja só pra visitar. Mas se eu tiver que voltar pra morar, eu vou sempre ter a certeza que eu vou estar ao lado das pessoas certas...

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