segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

O turista e o morador - Parte 3 (Final)

É, demorei pra chegar aqui. Pra chegar em casa, ao final, ao recomeço.
Há quase um ano cheguei em Berlin com uma mochila, alguns euros, um amigo e uma casa por 15 dias. Parece pouco (e hoje, olhando pra trás, eu vejo o quão pouco é), mas eu também trazia ideias, sonhos, expectativas. Daí que se passou um ano, e agora eu me sinto sim em casa. Cheguei como turista, querendo conhecer tudo ao meu redor. Hoje sou morador, hoje sou eu que levo os turistas para conhecer a cidade.
Estive a caminho de casa, agora estou em casa. Agora moro aqui. Tá na hora de seguir em frente, falar da casa em si, e não mais do caminho. O caminho já foi trilhado. Mas venho do Brasil, e não importa o que acontecer, eu vou sempre ter vindo do Brasil. Ou aus Brasilien, como eles dizem aqui...

Daqui pra frente escrevo no http://ausbr.blogspot.com/

Obrigado por caminhar comigo.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Who knew?

Essa noite sonhei mais uma vez com você. Já havia muito tempo que você nao visitava meu subconsciente. E entao que no caminho pro trabalho o meu ipod tocou Who Knew, e eu só pensava em te escrever. Talvez você nunca vai ler essa carta, mas eu preciso pelo menos fazer a minha parte. Eu preciso te dizer que sinto a sua falta.
Eu me lembro de quando você me dizia que ela visitava os seus sonhos, e de como eu achava aquilo estranho. Aquilo nunca tinha acontecido comigo. Agora eu te entendo. Por mais que eu tente enganar meu consciente, fingir que eu te esqueci e que você nao é mais importante pra mim, você continua lá, assombrando meus sonhos. Tinha sumido por um tempo, geralmente depois que eu tentava entrar em contato, pedir desculpas, conversar, esclarecer. Acho que minha mente entendia que eu tinha feito a minha parte. Mas o buraco que você deixou vai ficar pra sempre aqui, nao importa quantos anos se passem ou quao longe eu vá.
Eu errei com você, eu sei que errei. Eu errei em nao te compreender. Nao compreender o que era importante para você. E por mais que eu nao concorde, o acordo de uma amizade (ou qualquer outra relacao) é aceitar o outro como ele é. Qualidades e defeitos. Na época eu nao soube enxergar isso. Hoje eu sei. Mas de que adianta, já aconteceu. Já está no passado. E eu acho que nao há mais espaco para uma amizade entre nós dois.
A vida tomou caminhos diferentes, eu vim pra longe, você seguiu sua vida e eu segui a minha. O tempo passou, a vida passou. Mas eu nao consigo nao me perguntar como teria sido se nada disso tivesse acontecido. E você sabe que eu nao sou uma pessoa que se pergunta "e se...?" Mas com você é diferente. As vezes estou andando por aqui, as vezes vou a uma balada ou qualquer coisa, vejo alguem que te interessaria. Da vontade de te ligar. Meu pensamento imediato é querer compartilhar isso com você. Talvez porque você foi a melhor amiga que eu já tive na vida. E talvez por isso ficou um buraco depois que você se foi. E esse buraco vai ficar pra sempre. Um dia ele vira cicatriz, mas sempre eu vou olhar pra aquela marca e pensar em você, em o quanto eu fui feliz ao seu lado. E mesmo hoje, sabendo que terminaria como terminou, eu faria tudo outra vez. Porque pra mim valeu a pena.
Eu só queria mesmo te dizer que eu ainda te amo, e eu acho que vou te amar pra sempre. Nao te quero mal, pelo contrário, te quero sempre bem. Nao quero pedir sua amizade de volta. Como já disse, acho que nao haveria mais espaco pra isso. Mas quero, acima de tudo, pedir desculpas. Por tudo de errado que eu tenha feito. Por todas as vezes que te fiz mal, por todas as vezes que te irritei...
E quero também te dizer obrigado. Obrigado por ter passado pela minha vida, obrigado por ter me ensinado tanto, por ter me feito um cara melhor. Se um dia eu escrever uma biografia, vários capítulos vao ser dedicados a você. Eu nao te esqueco, nao vou te esquecer e nao quero te esquecer. Eu vou te guardar como uma memória boa, um tempo bom que talvez nunca mais volte. Mas foi um tempo bom. Um tempo em que eu fui feliz.
Se você leu até aqui, mais uma vez obrigado. Nao espero sua resposta, sei o quanto você é orgulhosa para responder. Sei que você vai rir disso com seus amigos, vai dizer o quanto eu sou idiota. Esse é o seu jeito, e eu gosto de você do jeito que você é. Mas eu sei também que no fundo, lá dentro do seu coracao, você vai sentir que tudo valeu a pena. Porque você é de ferro, mas seu coracao é de verdade humano.

I won't forget you my friend, what happened?



sexta-feira, 24 de junho de 2011

A cidade que não tinha montanhas

Três corações e uma cama vazia

Pela primeira vez em sua vida, ele se apaixonou por duas pessoas. Ao mesmo tempo, na mesma quantidade. Duas pessoas que, se ajuntadas, seriam o seu príncipe encantado. Dois caras, completamente diferentes um do outro, mas que se completavam. E pela primeira vez ele queria ter os dois, ao mesmo tempo. Mas, mas uma vez, a vida lhe pregou uma peça. Cada um, a sua maneira, era impossível, inatingível.
O primeiro era tudo o que ele sempre quis em um marido. Um cara mais velho, um porto seguro, bem estruturado, seguro de si, culto, adulto. Tinha os hobbies perfeitos, a vida perfeita, vivia no mundo perfeito. E ele acreditava que esse cara seria sua porta de entrada para a vida que ele sempre quis. Mas esse cara era frio, distante, omisso. Como amante, tanto no plano romântico como no plano sexual, ele estava longe de ser o cara perfeito. Ele era um leonino, um leonine egoista. Um leonino que, as vezes ele pensava, so queria alguém que o amasse e o elogiasse. Independente de quem fosse.
E nesse espaço ele entrou o outro. Assim, devagarzinho. Inesperado. O outro nao tinha a vida perfeita, tinha uma vida mais parecida com a dele. Também era mais velho, mas tinha uma alma jovem. E como era carinhoso... Romântico, fofo, agradável. Sempre dava abraços, sempre mandava mensagens e músicas. O sexo, na unica vez que aconteceu, foi talvez um dos melhores que ele ja teve. Mas, e claro que sempre tem um "mas", esse segundo cara ja era casado. Casado com um cara super bacana. Que juntos viviam uma vida feliz.
Eis que entao, em uma quinta-feira qualquer, ele percebeu que estava tudo errado. Ele tinha falado com ambos naquele dia. O primeiro foi carinhoso de uma forma fria e distante, como sempre. O segundo foi extremamente carinhoso, também como sempre. E seu coração parecia estar feliz vivendo esse menàge. Mas daí a noite chegou, e ele percebeu que mesmo tendo dois homens para amar, ele dormiria sozinho. Que mesmo com tanto, ele ainda tinha tão pouco. E que, no fim das contas, nenhum dos dois era capaz de resolver seu maior problema: a solidão. Mesmo tendo dois amores, ele dormiu sozinho. Nos seus sonhos, mais uma vez sonhou com a sua casa, com seus amigos, com sua família. Com todos aqueles que ele amava e que lhe amavam de verdade. E ele acordou sozinho.
O dia seguinte foi parecido com todos os outros. O primeiro cara nao deu noticias, como sempre. O segundo cara mandou uma musica linda de bom dia. Também como sempre. Mas alguma coisa tinha mudado. Alguma coisa nele estava diferente. Ele nao saberia explicar, se entao lhe fosse perguntado. De vez em quando se pegava pensando em um, no outro, em casa. Queria um, queria o outro, queria ir pra Minas, mas Minas nao havia mais. E em sua cabeça se repetia a pergunta: E agora, José?

(essa estória ainda está sendo escrita)


Pimenta nos olhos dos outros

Depois de tanto tempo distante, ele finalmente encontraria o seu amor. Como ele havia esperado por esse dia! Passou os últimos tempos fazendo planos, criando espectativas. Talvez tivesse vivido os ultimos dias somente por esse momento. Sempre que algo de ruim lhe acontecia, ele respirava fundo e pensava que encontraria o seu amor, e que no fim tudo ficaria bem. Aquele dia, por exemplo, foi um dia em que tudo para ele deu errado. Mas ainda assim ele estava feliz, o amor estava por vir e isso, por si só, era suficiente para lhe deixar alegre e esperançoso.
Mas, talvez como tudo em sua vida, aquele encontro nao aconteceu. Primeiro ele esperou por uma mensagem, uma ligacao. Depois ele cansou de esperar e procurou. E, mas uma vez, seu amor se fez inatingível. Ate um certo ponto ele permaneceu esperançoso de que aquele momento ainda chegaria. Mas o momento nunca chegou. E quando ele se deitou para dormir, ele estava verdadeiramente triste. Triste pelo seu dia ter sido ruim. Triste por sua vida ser uim. Mas principalmente, triste por nao ter encontrado aquele que era, para ele, a solução dos seus problemas. A esperança de algo melhor. Eles nao se encontraram, ele dormiu sozinho, e a vida continuou. Ele prometeu pra si mesmo nao ter mais esperança, mas no fundo ele sabia que seria incapaz de cumprir essa promessa. Porque ele amava, e quem ama faz mesmo essas coisas.
O que ele nao sabia, no entanto, é que seu amor estava com outro amor. Seu amor estava feliz, e não era por causa dele. Mas por causa de outro. Naquele dia seu amor nao quis vê-lo, pois tinha outros planos. E para o seu amor, ele não era tanto assim. Ele amava demais, mas o seu amor nao correspondia a altura. Talvez por estarem em momentos diferentes. Ou simplesmente talvez por ser a vida assim, e essas coisas ninguem pode explicar.
Ele não sabia, e talvez nem quisesse saber. Talvez, se soubesse, teria sofrido muito mas teria aprendido. E teria esquecido mais facilmente. Mas queria ele esquecer? Queria ele aprender? Talvez, tudo que ele precisava naquele momento era daquela ilusão, daquele ideal, daquela esperanca. Algo que o movesse. E transformar essa esperança em desilusão seria muito perigoso para ele.
Mas, em um mundo paralelo e hipotético, onde ele descobriu a verdade, ele chorou. Ele chorou e gritou e se olhou no espelho com raiva. Se chamou de idiota, e disse que nunca mais se apaixonaria por ninguém. So que quando lhe veio outra vez a razão, ele percebeu que o mesmo acontecia com ele. Ele tambem tinha alguem que lhe amava, mas que esse alguem tinha outro que amava esse alguém. Ele também amava esse alguém. E ele não se importava com a terceira pessoa, afinal ele gostava de amar e ser amado. Ele precisava ser amado, e ainda que um terceiro sofresse, ele estaria feliz. E muitas vezes deveríamos ser egoistas e pensarmos na nossa própria felicidade.
Porque no fim, em um relacionamento, sempre tem alguem que ganha e alguem que perde. Alguem que ama e alguem que é amado. E assim é a vida, como uma quadrilha: "João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém. João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história."

(essa estória também ainda está sendo escrita)

segunda-feira, 30 de maio de 2011

O topo do meu Everest

Uma das coisas que acho mais interessante entre nós, humanos, é a nossa capacidade de sonhar. Não me refiro aqui a sonhar durante o sono, mas a sonhar acordado. Almejar. Querer sempre alcançar coisas diferentes e, na maioria das vezes, maiores. Isso pode ser extremamente benéfico ou perigosamente maléfico. Eu explico.
Alguém que vive sonhando acordado acaba perdendo a vida, o momento. Tem sua cabeça tão entretida e preocupada com o que há de vir, que acaba não aproveitando o caminho. E isso, além de ser triste, é muito perigoso. A pessoa pode cair numa realidade paralela, numa vida de fantasia, não sabendo mais distinguir o que é verdadeiro do que é inventando. E talvez a pior consequência que isso pode trazer é o fato de essa pessoa começar a se decepcionar com tudo o que é real. Been there, did that.
Nos últimos meses, tenho vivido de sonhos. Sonhos sobre tudo. A mudança para outro país, o aprendizado de uma nova língua, uma nova cultura e um novo modo de vida, o parceiro ideal, o trabalho dos sonhos... Grandes expectativas levam a grandes decepções. Mas não adianta dizer isso aqui, você só aprende vivendo. Quantas vezes ouvi as pessoas que eu amo me alertando para os perigos de se sonhar demais, e ainda assim eu o fiz. E a realidade foi normal demais para mim. Cheguei a beira do precipício da depressão, e essa talvez é a causa principal. Mas não caí.
Puxando a sardinha pro meu lado, eu gosto de me definir como uma fênix. Pode ser brega, mas eu sempre consigo me erguer quando chego ao fundo do poço. Agora é mais um exemplo claro disso.
Berlin não foi tudo aquilo que eu esperava, mas isso já era de se esperar. E eu sinto saudade de muita gente, de muitos momentos, tudo o que eu deixei para trás. E fui eu que escolhi fazer isso. Tenho que arcar com minhas consequências. Mas, por outro lado, Berlin é sensacional. É tudo o que eu sempre quis, e cada dia eu tenho mais certeza que tomei a decisão certa. Algumas vezes me pego pensando se não deveria ter vindo antes. Mas a resposta a essa questão é e sempre será impossível. E, apesar de as vezes não demonstrar, eu estou muito feliz agora. Estou vivendo o meu sonho, estou onde eu devo estar, no momento que eu devo estar.
Sonhar pode ser incrivelmente delicioso, se feito sob moderação. Um homem saudável nunca está perfeitamente satisfeito com sua vida. Ele sempre quer mais, ele sempre procura mais. E é esse ideal da procura que nos leva adiante, que nos faz viver a cada dia. Eu também tenho os meus sonhos, e devagarzinho estou aprendendo a colocá-los no lugar certo, o lugar que eles devem ocupar na minha vida.
Há alguns meses atrás eu vegetava no sonho de viver em Berlin, e agora estou dentro desse sonho. Agora, aqui vivendo, eu começo a construir outros sonhos. Sonhos mais altos, mais ambiciosos. Berlin já não me é mais suficiente, mas de uma forma positiva. Amo isso aqui, mas quero mais da vida. Tudo o que eu sonhei e planejei está dando certo, talvez não tão rápido como eu esperava, mas a minha ansiedade é também algo que eu estou aprendendo a lidar com. Agora, eu vivo Berlin. Minha cabeça, meu coração, minha vida estão aqui. Mas eu quero mais.
E para conquistar o que eu quero, não adianta sentar e pensar em como vai ser bom. Tem que trabalhar pra isso, tem que fazer acontecer. E eu resolvi me movimentar, eu resolvi fazer minha vida seguir o rumo que eu quero. Afinal, ninguém tem mais controle de mim mesmo que eu. E se eu deixar que alguém o tenha, estou cometendo um erro. Um erro fatal.
Imagino a sensação de chegar ao topo do Everest. Acredito ser uma euforia inicial, que pode durar algumas horas ou até mesmo dias, seguida então por uma profunda depressão. E agora, o que eu vou escalar? Pra onde mais vou subir? Uma vez pensei que Berlin seria meu Everest, mas aqui estando percebi o quanto estou errado. Ainda tenho muitas montanhas a escalar, muito a conquistar nessa vida. Sem negar ou minimizar meu passado, estou apenas começando. E tudo o que eu já fiz e já conquistei vai me servir de base. E eu vou conseguir, sabe porque? Porque eu sempre consigo tudo o que eu quero. Pode demorar, pode vir torto, pode não ser perfeito. Mas eu consigo. E, mais uma vez, eu vou conseguir.
Pode apostar.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

O paradoxo de Ícaro

Ultimamente tenho pensado muito em você. Inclusive acho que já te disse isso. Muito estranho, sem dúvida. Mas não totalmente incompreensível. Você ficou do lado de lá do Atlântico, mas o sonho que eu construi de você veio comigo pro lado de cá. E a culpa é minha, eu te criei perfeito e você acabou se mostrando um cara normal. E isso pra mim foi pouco, eu esperava mais. Eu esperava demais.
Esse é o grande problema da minha vida, eu construo e desconstruo os meus amores. E no fim, os destruo em mim. Com você não foi diferente, e com os que aqui encontrei tampouco. Minha mente e meu coração preferiram se retirar da vida real, preferiram criar uma fantasia digna dos filmes da Disney. Dentro de mim tudo acontece sem que nada realmente se passe na vida real. Sentimentos, casamentos, desilusões, tragédias e finais felizes. E você sequer tomou alguma parte disso.
Eu vejo as suas fotos, e percebo que sinto falta. Não de você, mas da pessoa em que te idealizei. Porque eu não te conheço de verdade. Eu não sei quem você é, o que você gosta, o que faz ou como é a sua vida. Eu nunca soube, e nem sei se saberei. Eu sinto saudade da sua imagem em mim. Do que eu senti quando te imaginei. E isso foi se apagando devagar quando você se tornou real, de carne e osso, som e cheiro... A realidade crua e vermelha sobre mim era talvez normal demais.
E aqui estou eu, repetindo os mesmos erros com mais um que poderia ser o homem da minha vida. Alguém que eu encontrei do lado de cá e que é tudo o que eu sempre quis. Daí que eu encontro alguém que se encaixa em minha fantasia, que se adequa aos meus padrões de bom e ruim. E isso me assusta e intimida. E eu faço tudo errado mais uma vez. Mais uma vez estou cometendo os mesmos erros. E sou um imbecil, porque nem mesmo sei como aprender com meus erros. Não sei sequer usá-los ao meu favor, pra aprender a ser um cara melhor. E talvez achar alguém com quem construir uma vida.
Alguém normal, de carne e osso. Que come, bebe, respira e solta pum. Alguém que não tenha só qualidades, mas defeitos. E que eu saiba ver graça nisso também. Mas, enquanto não consigo descer do meu Olimpo, te castigo pela ousadia de, como mortal, tentar chegar muito perto dos deuses. E assim como Ícaro, também vivo entre o paradoxo do sonho e da morte. Pois quanto mais eu sonho em viver com alguém, mais eu aumento a possibilidade de ficar sozinho.

sábado, 14 de maio de 2011

Amor, Love, Liebe... E o que se perde na tradução.

[esse texto foi originalmente publicado no meu blog sobre Berlin - http://ausbr.blogspot.com]



Talvez a experiência mais inusitada que vivi até agora em outro país foi a de me envolver com alguém. Dizem que a linguagem do amor é universal, mas sou obrigado a discordar dessa afirmativa. Depois de 2 meses e meio em Berlin, percebi que ter um relacionamento por aqui é uma tarefa difícil, ainda mais para um Brasileiro.

Venho de um país onde as pessoas são calorosas e intensas. Gostam de abraçar, se apaixonam a primeira vista, em questão de dias já estão envolvidos até o pescoço com o outro. No Brasil, as pessoas se olham, flertam, conversam umas com as outras. Em Berlin é outra história. Aqui as pessoas são frias, secas e individualistas. Pelo menos no primeiro contato. E o jeito "brasileiro" de ser assusta, e assusta muito aos alemães. Flerte em balada acontece, mas não é como eu estou acostumado. É uma coisa mais formal e mais fria. E o jeito mais fácil de conseguir alguém por aqui é por um website chamado GayRomeo, seja para uma simples trepada, seja para casar e construir uma vida. Todo gay aqui tem um perfil no site, e é lá que eles se soltam... Algo tão impessoal e ao mesmo tempo tão indispensável para eles.

A língua é outra barreira. Eu ainda não falo muito bem Alemão, e gente que fala Português por aqui é algo raro. Mesmo Português de Portugal. Então as conversas tem de ser desenvolvidas em Inglês. Da pra imaginar a confusão, afinal essa não é a língua materna de nenhum dos dois lados - nem eu nem eles. É óbvio que muito se perde na tradução. Talvez por não saber uma palavra, talvez por não saber como se expressar. Ou talvez pelo simples fato de tentar dizer algo e o outro entender um algo completamente diferente. Algo comum em uma comunicação, e que pode ser severamente agravado em uma comunicação estrangeira.

O background é mais um fator que pode ajudar ou atrapalhar tudo. Se dois brasileiros podem ter backgrounds completamente diferentes, imagine um brasileiro e um alemão... Coisas e ações que para mim são normais e perfeitamente compreensíveis, podem ser completamente anormais para eles. E aqui volto a bater na tecla de como os brasileiros são intensos e calorosos. Com meu último namorado, em uma semana juntos já estávamos namorando, conhecendo os amigos e as famílias e trocando juras de amor. Aqui talvez você passe uma vida inteira com alguém sem que nada disso aconteça. E isso é normal pra eles. E se você falar cedo demais em paixão, relacionamento, compartilhar, prepare-se para que eles te olhem com a cara de interrogação e te cortem com um balde de água fria. Isso num cenário positivo, pois pode acontecer do alemão se assustar e sair correndo. E nunca mais te dar notícias.

Por um lado, tenho tido extrema dificuldade em me adaptar a esse estilo de vida afetiva. Eu sou um cara romântico e carinhosos, gosto de fazer o cara que está comigo feliz, gosto de dar presentes, fazer surpresas. E parece que por aqui isso é mais um defeito que uma qualidade. Mas por outro lado, eu já estou começando a entender a forma dos alemães lidarem com o coração e talvez já esteja sendo absorvido pelo sistema deles. Vejo meus amigos brasileiros me falaram sobre paixões instantâneas e avassaladoras no primeiro encontro e já tem uma parte de mim que me diz "que absurdo, no primeiro encontro?" Até uns dias eu era assim. E agora eu tenho que jogar de acordo com as regras daqui. E tem horas que eu até penso que faz algum sentido.

Ainda tenho muito a aprender por aqui, mas nem tudo está perdido. Dizem que o sonho de todo alemão é se casar com um brasileiro. Que eles procuram nos brasileiros o que eles não encontram nos outros alemães. Pode ser que a melhor ideia é me adaptar ao jeito daqui, sem perder o meu jeito de lá. Ser um meio termo entre o alemão e o brasileiro, tentando preservar as melhores características dos dois lados. Porque acima de tudo, eu não quero mudar. Eu não quero deixar de ser um cara fofo e carinhoso. Então o melhor caminho pra mim é continuar sendo o brasileiro intenso, mas com meus momentos de alemão frio e distante. E aprender essa língua logo, pra derrubar mais uma barreira.

Na verdade, ainda tenho muito pra aprender e percorrer aqui. Ainda estou no começo da caminhada. E se vai dar tudo certo? Não sei, isso só o tempo vai dizer.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

O fundo do U

Ontem eu cheguei ao fundo do poço. Acho que foi o pior dia, desde que cheguei em Berlin. Juntou um tanto de coisa, um tanto de coisa que me derrubou. A solidão, que foi atenuada por um feriadão que me me entediou profundamente. Solidão de estar sozinho, em um lugar onde eu ainda não tenho amigos de verdade (isso leva tempo, tempo normal). De estar em um lugar onde eu não falo a língua, não tenho o que fazer, não tenho pra onde ir. Em BH eu pelo menos tinha Michele ao meu lado, e não importa o quão só eu estivesse, ela sempre estava lá ao meu lado, demonstrando seu amor incondicional. Aqui não tenho nada, nem ninguém. Só tenho a mim mesmo. E de vez em quando eu me canso de mim, das minhas músicas, da minha comida, das minhas ideias, dos meus sonhos.
Nos últimos dias conheci um cara, um cara que virou meu mundo de cabeça pra baixo. Alguém que pela primeira vez em muito tempo foi legal comigo, demonstrou afeto, carinho, interesse. Alguém em que eu depositei todos os meus medos e minhas esperanças. E ontem eu experimentei a sensação de não mais tê-lo, e isso me doeu até o ossos. Quando finalmente eu havia pensado que tudo tinha se resolvido, que eu tinha encontrado o meu porto seguro, foi aí que veio a vida e me passou uma rasteira. Eu meio que já esperava que isso acontecesse, acho que com o passar do anos me acostumei a perder as pessoas que eu realmente quero ao meu lado. Não sei se o perdi de verdade, ou se ainda tem muito a acontecer. Só sei que ontem eu senti que o tinha perdido pra sempre. E isso me machucou ainda mais.
Só que agora eu não tenho pra onde correr. Tenho amigos pra me confortar no skype ou no chat do facebook/gmail, mas não tenho quem me dar um abraço apertado e me fazer acreditar que tudo vai ficar bem. Tenho que lidar com minha solidão e minhas desilusões sozinho. E estou sim um pouco desiludido. Desiludido com o meu sonho de vir pra Berlin. A cidade é espetacular, a experiência tem sido fantástica. Mas tem sido muito mais difícil que eu imaginava. Eu imagino que isso seja normal, afinal os sonhos só mostram o lado bom. Senão seriam pesadelos. E eu sonhei com um mundo perfeito, e mundos perfeitos só existem mesmo nos sonhos. E a realidade é outra história.
Mas eu não vou desistir, não vou entregar os pontos e voltar atrás. Eu sei que todos me receberiam de braços abertos, mas eu sempre me olharia no espelho e me acharia um idiota. Tenho muito orgulho pra desistir. Tenho muito orgulho pra voltar atrás. E sabe, no fim vai dar tudo certo. Eu tenho certeza que vai. Porque o bom de estar no fundo do poço é saber que não tem mais como ficar pior. Cheguei ao meu pior estágio, e daqui pra frente acredito que tudo tende a melhorar. Eu acredito, e isso é o mais importante. Em todos os momentos em que eu fiquei triste e deprimido, eu nunca parei de acreditar. É a minha vida, é o meu futuro, e só eu posso fazer isso acontecer. Os momentos difíceis servem principalmente pra nos fazer mudar, melhorar, aprender. E eu quero muito melhorar! Já tenho a garra e agora vou buscar a força. E se eu me dedicar a isso, não tem o que dar errado.
Estou no fundo do U, e daqui pra frente a tendência é subir novamente. Aguardem notícias.