sexta-feira, 24 de junho de 2011

A cidade que não tinha montanhas

Três corações e uma cama vazia

Pela primeira vez em sua vida, ele se apaixonou por duas pessoas. Ao mesmo tempo, na mesma quantidade. Duas pessoas que, se ajuntadas, seriam o seu príncipe encantado. Dois caras, completamente diferentes um do outro, mas que se completavam. E pela primeira vez ele queria ter os dois, ao mesmo tempo. Mas, mas uma vez, a vida lhe pregou uma peça. Cada um, a sua maneira, era impossível, inatingível.
O primeiro era tudo o que ele sempre quis em um marido. Um cara mais velho, um porto seguro, bem estruturado, seguro de si, culto, adulto. Tinha os hobbies perfeitos, a vida perfeita, vivia no mundo perfeito. E ele acreditava que esse cara seria sua porta de entrada para a vida que ele sempre quis. Mas esse cara era frio, distante, omisso. Como amante, tanto no plano romântico como no plano sexual, ele estava longe de ser o cara perfeito. Ele era um leonino, um leonine egoista. Um leonino que, as vezes ele pensava, so queria alguém que o amasse e o elogiasse. Independente de quem fosse.
E nesse espaço ele entrou o outro. Assim, devagarzinho. Inesperado. O outro nao tinha a vida perfeita, tinha uma vida mais parecida com a dele. Também era mais velho, mas tinha uma alma jovem. E como era carinhoso... Romântico, fofo, agradável. Sempre dava abraços, sempre mandava mensagens e músicas. O sexo, na unica vez que aconteceu, foi talvez um dos melhores que ele ja teve. Mas, e claro que sempre tem um "mas", esse segundo cara ja era casado. Casado com um cara super bacana. Que juntos viviam uma vida feliz.
Eis que entao, em uma quinta-feira qualquer, ele percebeu que estava tudo errado. Ele tinha falado com ambos naquele dia. O primeiro foi carinhoso de uma forma fria e distante, como sempre. O segundo foi extremamente carinhoso, também como sempre. E seu coração parecia estar feliz vivendo esse menàge. Mas daí a noite chegou, e ele percebeu que mesmo tendo dois homens para amar, ele dormiria sozinho. Que mesmo com tanto, ele ainda tinha tão pouco. E que, no fim das contas, nenhum dos dois era capaz de resolver seu maior problema: a solidão. Mesmo tendo dois amores, ele dormiu sozinho. Nos seus sonhos, mais uma vez sonhou com a sua casa, com seus amigos, com sua família. Com todos aqueles que ele amava e que lhe amavam de verdade. E ele acordou sozinho.
O dia seguinte foi parecido com todos os outros. O primeiro cara nao deu noticias, como sempre. O segundo cara mandou uma musica linda de bom dia. Também como sempre. Mas alguma coisa tinha mudado. Alguma coisa nele estava diferente. Ele nao saberia explicar, se entao lhe fosse perguntado. De vez em quando se pegava pensando em um, no outro, em casa. Queria um, queria o outro, queria ir pra Minas, mas Minas nao havia mais. E em sua cabeça se repetia a pergunta: E agora, José?

(essa estória ainda está sendo escrita)


Pimenta nos olhos dos outros

Depois de tanto tempo distante, ele finalmente encontraria o seu amor. Como ele havia esperado por esse dia! Passou os últimos tempos fazendo planos, criando espectativas. Talvez tivesse vivido os ultimos dias somente por esse momento. Sempre que algo de ruim lhe acontecia, ele respirava fundo e pensava que encontraria o seu amor, e que no fim tudo ficaria bem. Aquele dia, por exemplo, foi um dia em que tudo para ele deu errado. Mas ainda assim ele estava feliz, o amor estava por vir e isso, por si só, era suficiente para lhe deixar alegre e esperançoso.
Mas, talvez como tudo em sua vida, aquele encontro nao aconteceu. Primeiro ele esperou por uma mensagem, uma ligacao. Depois ele cansou de esperar e procurou. E, mas uma vez, seu amor se fez inatingível. Ate um certo ponto ele permaneceu esperançoso de que aquele momento ainda chegaria. Mas o momento nunca chegou. E quando ele se deitou para dormir, ele estava verdadeiramente triste. Triste pelo seu dia ter sido ruim. Triste por sua vida ser uim. Mas principalmente, triste por nao ter encontrado aquele que era, para ele, a solução dos seus problemas. A esperança de algo melhor. Eles nao se encontraram, ele dormiu sozinho, e a vida continuou. Ele prometeu pra si mesmo nao ter mais esperança, mas no fundo ele sabia que seria incapaz de cumprir essa promessa. Porque ele amava, e quem ama faz mesmo essas coisas.
O que ele nao sabia, no entanto, é que seu amor estava com outro amor. Seu amor estava feliz, e não era por causa dele. Mas por causa de outro. Naquele dia seu amor nao quis vê-lo, pois tinha outros planos. E para o seu amor, ele não era tanto assim. Ele amava demais, mas o seu amor nao correspondia a altura. Talvez por estarem em momentos diferentes. Ou simplesmente talvez por ser a vida assim, e essas coisas ninguem pode explicar.
Ele não sabia, e talvez nem quisesse saber. Talvez, se soubesse, teria sofrido muito mas teria aprendido. E teria esquecido mais facilmente. Mas queria ele esquecer? Queria ele aprender? Talvez, tudo que ele precisava naquele momento era daquela ilusão, daquele ideal, daquela esperanca. Algo que o movesse. E transformar essa esperança em desilusão seria muito perigoso para ele.
Mas, em um mundo paralelo e hipotético, onde ele descobriu a verdade, ele chorou. Ele chorou e gritou e se olhou no espelho com raiva. Se chamou de idiota, e disse que nunca mais se apaixonaria por ninguém. So que quando lhe veio outra vez a razão, ele percebeu que o mesmo acontecia com ele. Ele tambem tinha alguem que lhe amava, mas que esse alguem tinha outro que amava esse alguém. Ele também amava esse alguém. E ele não se importava com a terceira pessoa, afinal ele gostava de amar e ser amado. Ele precisava ser amado, e ainda que um terceiro sofresse, ele estaria feliz. E muitas vezes deveríamos ser egoistas e pensarmos na nossa própria felicidade.
Porque no fim, em um relacionamento, sempre tem alguem que ganha e alguem que perde. Alguem que ama e alguem que é amado. E assim é a vida, como uma quadrilha: "João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém. João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história."

(essa estória também ainda está sendo escrita)