domingo, 27 de fevereiro de 2011

Começo do fim

Ir embora sucks. Queria levar todo mundo na bagagem comigo. Cansei do Brasil, mas aqui tá tudo o que eu já construí na vida. Fico mal de deixar todo mundo pra trás. Uma pontinha de arrependimento bate em mim. Eu vou sentir sua falta e vai me visitar são as frases que eu tenho mais falado nos últimos dias.
Porra, que saco ter que ir embora! Eu amo BH, amo meus amigos, amo Michele e amo minha família daqui. Arghhhhh!
Triste, mesmo. Quero chorar.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Thank U

Essa semana meu ipod tocou Thank U, da Alanis, e meu pensamento voou lá para 2001, meados de Fevereiro. Quase exatos 10 anos atrás. Lá estava eu, sentado na calçada de um bar de quinta categoria, em frente a um ponto de ônibus, em algum lugar entre a cidade nova e a nova floresta. Tinha acabado de voltar de Confins, e nas minhas mãos carregava o Supposed Former Infatuation Junkie. Naquela época eu só conhecia Thank U, e tinha ganhado aquele CD de uma pessoa espetacular, que em menos de dois meses se tornou indispensável na minha vida - e que ainda é indispensável até hoje.
Daniela tinha acabado de embarcar para Sevilla, passaria seis meses polindo o Espanhol e o Flamenco. Aquele dia eu passei junto dela na sua casa, ajudando a fazer as malas e fofocando. Depois fui com ela até o aeroporto. E mesmo naquele momento triste, sentindo uma imensa falta e querendo chegar em casa correndo para ouvir logo Thank U e lembrar do quanto tudo nos últimos 2 meses tinha sido sensacional, mesmo assim eu ficava me perguntando como seria a sensação de largar tudo e ir embora.
Aquela realidade era tão distante de tudo, tão louca e ao mesmo tempo incrivelmente tentadora. Eu tinha certeza que um dia seria eu, que chegaria a minha hora de ir também. Que eu faria como a Dani fez. Eu não fazia ideia do quanto tempo demoraria, mas naquele dia eu plantei semente da ideia na minha cabeça: eu preciso ir morar no exterior.
Lá se vão 10 anos, e agora chegou a minha vez. Talvez naquela época eu não pensava que seria tão demorado, mas assim é a vida. As coisas precisam acontecer no tempo certo, isso é algo que a idade me ensinou. Agora é o meu tempo, é a minha vez. E eu to tranquilo...
Mentira, eu to empolgado até o último fio de cabelo!

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Epitáfio

Hoje eu só quero pedir desculpas. Aos meus pais, aos meus amigos, meus cachorros e minha Belo Horizonte. Pedir desculpa a minha Michele. Desculpa a todos vocês que estão aqui e a quem eu estou abandonando. Sim, eu estou deixando vocês todos para trás e partindo atrás de um sonho. Um sonho que diriam ser um sonho louco. Porque assim, num estalar de dedos, eu vou trocar tudo o que eu construí aqui por duas semanas de lugar para morar e alguns poucos milhares de euros na carteira.

Eu sou o maior culpado de ter que ir embora. Eu fui um incompetente ao construir a minha vida aqui. Eu errei a mão em diversos momentos, repeti os mesmo erros e bati com a cabeça na parede por inúmeras vezes. E daí que eu cheguei num ponto onde eu não vejo mais caminho viável pra mim. Não aqui, em Belo Horizonte. Não aqui, no Brasil. Voltei meus olhos pro outro lado do Atlântico, para uma segunda possível casa. Para Berlin, a maravilhosa e dourada Berlin.

Berlin é, para mim, um sonho. Uma esperança. Aquela esperança das coisas se resolverem. Berlin é a minha megasena. É onde eu estou me dando a chance de recomeçar do zero. E como é confortante a ideia de começar do nada outra vez. A ideia de poder fazer tudo de novo, e dessa vez do jeito certo, colocando em prática tudo o que eu aprendi nos erros do passado. Eu vou tentar refazer. Eu vou tentar ser bem sucedido em tudo o que eu não fui aqui.

Eu vou pra Berlin, e quando eu voltar eu vou ter mais grana do que tenho hoje. Quando eu voltar, vou ter um corpo mais bacana e aquele menino que me deu um fora vai vir atrás de mim. Quando eu voltar, eu vou ter viajado mais, conhecido mais pessoas e lugares, me divertido mais, saído pra mais baladas… Quando eu voltar, eu quero voltar uma pessoa muito melhor do que sou hoje. Pode ser tudo uma ilusão, mas eu preciso acreditar nessa ilusão. Eu preciso ver um novo caminho, eu preciso seguir em frente. Eu preciso consertar os erros, mudar as coisas, me encontrar novamente e construir a minha vida.

Só que pra isso eu vou ter que deixar vocês todos para trás, e vocês não tem culpa disso. No final das contas, vocês é que vão pagar pelas minhas burradas e pela minha obstinação em fugir da minha vida errada para uma vida nova. Uma vida nova onde vocês não vão fazer parte, não da forma como fazem hoje. Não é justo com nenhum de vocês, e 'q por isso que eu peço desculpas. Do fundo do coração.

Desculpa por ter que ir embora. Desculpa por não ser perfeito. Desculpa por qualquer coisa. Não posso prometer voltar uma pessoa melhor. Mas posso prometer tentar. Por mim, sim. Mas principalmente por vocês.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Armários

Nunca chutei a porta do armário. Saí dele com convicção, mas a passos lentos. Um dia abri a porta, e isso foi o mais difícil. Nessa hora saí do meu próprio armário, contei pra mim mesmo o meu segredo: eu gosto de meninos. Hoje me parece uma bobagem, mas foi complicadíssimo para mim aceitar o fato de que eu não sou aquilo que esperam que eu seja. Aquilo que eu mesmo esperava e tentava ser. Por mais patético que possa parecer, eu tentei ser heterosexual. Mas esse armário já se explodiu, não tenho mais que falar dele. Não hoje, pelo menos. Hoje quero falar de outros armários.
Certa vez vi alguém falar sobre auto-imagem residual em um filme. Algo como a imagem que alguém projeta de si mesmo. Essa imagem é talvez o meu principal armário. É o que mais me prende. É quem me faz correr atrás do que eu quero ser. Algo como uma meta, um objetivo de vida. Esteticamente falando.
Por outro lado, sou um cara desleixado ao extremo. I couldn't care less about myself. Isso é resultado de um excesso de auto-confiança e de boa auto-estima. Me acho tão sensacional que nem preciso mexer com minha aparência. Mesmo que meu cabelo esteja grande, minha barba crescida de uma forma desorganizada, minha barriguinha que não é tão inha assim, um peito digno de sutiã... Mesmo assim eu sou lindão e pegador. Então pra que mexer?
(Não é falta de humildade, é simplesmente como funciona a minha cabeça. E não vou usar desse parêntese para explicar minha auto-estima e auto-confiança porque não é o caso. E também não incluo aqui falta de higiene, e se você pensou nisso você não me conhece at all.)
Eu sou gordinho, sempre fui gordinho e suspeito que sempre serei. Ja tive barriga tanquinho, ja fui fortinho e saradinho. Mas pra isso eu não comia, malhava 24/7, vivia escravo da beleza, desmaiava por falta de alimentação. Passado negro, sim eu tenho passado negro. Enfim, sempre fui gordinho. E sempre serei. So me falta agora admitir isso, pra mim mesmo. Ser sarado not gonna happen for me! Eu ganhei e ganharei várias coisas nessa vida, mas essa eu perdi. E bola pra frente, pô!
Não é fácil pra mim admitir isso. Esse é um dos meus maiores armários, e eu tenho que conseguir sair dele. É minha nova meta, meu novo objetivo. Conseguir admitir pra mim que eu vou ser um gordinho, e que mesmo assim eu vou pegar geral. Preciso me cuidar mais, mas me cuidar da forma certa. Não é comer de tudo o que eu quero quando eu quero e de repente fazer um regime, tomar remedios malucos e começar a correr 1 hora por dia durante uma semana, pra caber num vestido que eu quero tanto usar naquele casamento. Preciso fazer um exercício físico, mas pra ficar saudável. Preciso ser feliz sem culpa. Preciso chutar a porta desse armário e me libertar. Preciso aprender a ser urso.
Ah, se meu desabafo fútil te incomoda, I'm sorry. Like anyone cares.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Risco químico

Preciso te pedir desculpas. Não tive coragem de te falar pessoalmente, fui um covarde. Nunca tinha sido assim, sempre falava o que me vinha a cabeça, doesse a quem doesse. Mas com você, amarelei. Enfim, sem rodeios.
Desculpa por não ter sido como você esperava que eu fosse. Não funcionou, não sei porque... Só sei que não rolou. Tenho a impressão que foi recíproco, mas isso é pura especulação. Afirmo por mim: não rolou, mesmo.
A gente tinha tudo para dar certo, foi sensacional no papel. Na tela do computador, pelo facebook, pelo telefone. A expectativa foi fenomenal. Aí você chegou ao mundo real. No começo, sei lá. Foi estranho. Não foi tudo aquilo, não sei se você também achou... Você é um cara sensacional, bonito, interessante, inteligente... Mas a química, essa dona química. Ela é cruel algumas vezes. Foi comigo. Não teve química. Mas eu não estou escrevendo aqui para falar mal.
Eu só queria mesmo te pedir desculpas. Principalmente por não ter tido a capacidade de te dizer isso tudo cara a cara, como alguém de caráter deve fazer. E eu não consegui. Eu deveria ter mandado você viver a sua vida, ter dito que não foi, que não era o que eu esperava, que não teve química. Talvez tudo tenha ficado bem, talvez você também estivesse pensando o mesmo. E talvez pudéssemos ter construído uma bela amizade...
Desculpe-me, do fundo do coração. Espero que você leia, espero que você me entenda. Espero ser seu amigo, de verdade. E espero talvez um dia conseguir tomar uma cerveja com você. Em Ipanema ou na Savassi, ouvindo Tulipa Ruiz ou Ludov. Mas o mais importante, espero um dia fazer você rir comigo de tudo isso.