sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Círculo vicioso

Pode-se dizer que eu fui isolado, mas uma contra-argumentação facilmente diria que eu quis me isolar. Já aconteceu, inclusive. Eu não sei quem começou o que, sei que eu cheguei no nada. Todo mundo ao meu redor está vivendo uma vida que não me existe. Eu deixei de existir na vida dos outros, e de certa forma deixei de existir também na minha vida. Ou, em termos leigos, deixei a minha vida fluir por mim. As horas, os dias, tudo passa. E eu continuo parado na inércia. Sem dinheiro, sem perspectiva, sem companhia. Somente com os meus cachorros. E com os meus sonhos.
Não, nem sonhos mais eu tenho. Não tem sido fácil conseguir dormir. E quando durmo, é tudo tão profundo que eu desligo desse mundo. E meus sonhos se tornam banais. Afinal, eu vivo de sonhar acordado. Minha imaginação já anda preguiçosa, talvez porque já não tenha mais o que imaginar.
Nesse exato momento eu estou perdido. Entre dois mundos. Estou boiando em pleno oceano Atlântico. Nem lá, nem cá. Há muito já deixei esse lado, mas ainda vai demorar um pouco para chegar ao lado de lá. Já deixei de lado os meus amigos, já morri da minha vida nesse mundo, já fui embora e já apaguei a luz. Mas meu corpo continua, como se ainda tivesse uma missão a ser cumprida. E eu não sei qual é, faço nem idéia. Só tenho idéia que tudo isso, essa solidão, esse isolamento, essa inveja das pessoas que vivem, tudo isso é minha culpa. Ou será que eu só decidi jogar a toalha e ir embora porque fui isolado e decidi tentar algo melhor?
Uma vida melhor é sempre tentadora, e a possibilidade de começar do zero é quase como ganhar na megasena. Ou isso é mais uma péssima metáfora, sei lá. Só que antes do próximo marco zero, enquanto flutuo sobre as ondas em algum lugar entre São Pedro e São Paulo, preciso descobrir se e o que há de errado comigo. Para que na vida nova tudo seja diferente. É o que eu tenho tentado sonhar. É o que eu vou tentar alcançar. E é onde eu tenho mais medo de falhar. E não adianta tentar prever, isso me daria mais insônia e mais fios brancos. Como se eu já não os tivesse o suficiente.
Ou como se alguém se importasse... Ah sim, Michele e Floquinho. Esse se importam, e muito. Esses veem de verdade, enxergam a alma. Nos enxergam vivos mesmo quando mortos. E são eles os que vão sentir de verdade a minha morte. Talvez já até esteja morto, e talvez por isso só os cachorros conseguem me ver.

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