segunda-feira, 30 de maio de 2011

O topo do meu Everest

Uma das coisas que acho mais interessante entre nós, humanos, é a nossa capacidade de sonhar. Não me refiro aqui a sonhar durante o sono, mas a sonhar acordado. Almejar. Querer sempre alcançar coisas diferentes e, na maioria das vezes, maiores. Isso pode ser extremamente benéfico ou perigosamente maléfico. Eu explico.
Alguém que vive sonhando acordado acaba perdendo a vida, o momento. Tem sua cabeça tão entretida e preocupada com o que há de vir, que acaba não aproveitando o caminho. E isso, além de ser triste, é muito perigoso. A pessoa pode cair numa realidade paralela, numa vida de fantasia, não sabendo mais distinguir o que é verdadeiro do que é inventando. E talvez a pior consequência que isso pode trazer é o fato de essa pessoa começar a se decepcionar com tudo o que é real. Been there, did that.
Nos últimos meses, tenho vivido de sonhos. Sonhos sobre tudo. A mudança para outro país, o aprendizado de uma nova língua, uma nova cultura e um novo modo de vida, o parceiro ideal, o trabalho dos sonhos... Grandes expectativas levam a grandes decepções. Mas não adianta dizer isso aqui, você só aprende vivendo. Quantas vezes ouvi as pessoas que eu amo me alertando para os perigos de se sonhar demais, e ainda assim eu o fiz. E a realidade foi normal demais para mim. Cheguei a beira do precipício da depressão, e essa talvez é a causa principal. Mas não caí.
Puxando a sardinha pro meu lado, eu gosto de me definir como uma fênix. Pode ser brega, mas eu sempre consigo me erguer quando chego ao fundo do poço. Agora é mais um exemplo claro disso.
Berlin não foi tudo aquilo que eu esperava, mas isso já era de se esperar. E eu sinto saudade de muita gente, de muitos momentos, tudo o que eu deixei para trás. E fui eu que escolhi fazer isso. Tenho que arcar com minhas consequências. Mas, por outro lado, Berlin é sensacional. É tudo o que eu sempre quis, e cada dia eu tenho mais certeza que tomei a decisão certa. Algumas vezes me pego pensando se não deveria ter vindo antes. Mas a resposta a essa questão é e sempre será impossível. E, apesar de as vezes não demonstrar, eu estou muito feliz agora. Estou vivendo o meu sonho, estou onde eu devo estar, no momento que eu devo estar.
Sonhar pode ser incrivelmente delicioso, se feito sob moderação. Um homem saudável nunca está perfeitamente satisfeito com sua vida. Ele sempre quer mais, ele sempre procura mais. E é esse ideal da procura que nos leva adiante, que nos faz viver a cada dia. Eu também tenho os meus sonhos, e devagarzinho estou aprendendo a colocá-los no lugar certo, o lugar que eles devem ocupar na minha vida.
Há alguns meses atrás eu vegetava no sonho de viver em Berlin, e agora estou dentro desse sonho. Agora, aqui vivendo, eu começo a construir outros sonhos. Sonhos mais altos, mais ambiciosos. Berlin já não me é mais suficiente, mas de uma forma positiva. Amo isso aqui, mas quero mais da vida. Tudo o que eu sonhei e planejei está dando certo, talvez não tão rápido como eu esperava, mas a minha ansiedade é também algo que eu estou aprendendo a lidar com. Agora, eu vivo Berlin. Minha cabeça, meu coração, minha vida estão aqui. Mas eu quero mais.
E para conquistar o que eu quero, não adianta sentar e pensar em como vai ser bom. Tem que trabalhar pra isso, tem que fazer acontecer. E eu resolvi me movimentar, eu resolvi fazer minha vida seguir o rumo que eu quero. Afinal, ninguém tem mais controle de mim mesmo que eu. E se eu deixar que alguém o tenha, estou cometendo um erro. Um erro fatal.
Imagino a sensação de chegar ao topo do Everest. Acredito ser uma euforia inicial, que pode durar algumas horas ou até mesmo dias, seguida então por uma profunda depressão. E agora, o que eu vou escalar? Pra onde mais vou subir? Uma vez pensei que Berlin seria meu Everest, mas aqui estando percebi o quanto estou errado. Ainda tenho muitas montanhas a escalar, muito a conquistar nessa vida. Sem negar ou minimizar meu passado, estou apenas começando. E tudo o que eu já fiz e já conquistei vai me servir de base. E eu vou conseguir, sabe porque? Porque eu sempre consigo tudo o que eu quero. Pode demorar, pode vir torto, pode não ser perfeito. Mas eu consigo. E, mais uma vez, eu vou conseguir.
Pode apostar.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

O paradoxo de Ícaro

Ultimamente tenho pensado muito em você. Inclusive acho que já te disse isso. Muito estranho, sem dúvida. Mas não totalmente incompreensível. Você ficou do lado de lá do Atlântico, mas o sonho que eu construi de você veio comigo pro lado de cá. E a culpa é minha, eu te criei perfeito e você acabou se mostrando um cara normal. E isso pra mim foi pouco, eu esperava mais. Eu esperava demais.
Esse é o grande problema da minha vida, eu construo e desconstruo os meus amores. E no fim, os destruo em mim. Com você não foi diferente, e com os que aqui encontrei tampouco. Minha mente e meu coração preferiram se retirar da vida real, preferiram criar uma fantasia digna dos filmes da Disney. Dentro de mim tudo acontece sem que nada realmente se passe na vida real. Sentimentos, casamentos, desilusões, tragédias e finais felizes. E você sequer tomou alguma parte disso.
Eu vejo as suas fotos, e percebo que sinto falta. Não de você, mas da pessoa em que te idealizei. Porque eu não te conheço de verdade. Eu não sei quem você é, o que você gosta, o que faz ou como é a sua vida. Eu nunca soube, e nem sei se saberei. Eu sinto saudade da sua imagem em mim. Do que eu senti quando te imaginei. E isso foi se apagando devagar quando você se tornou real, de carne e osso, som e cheiro... A realidade crua e vermelha sobre mim era talvez normal demais.
E aqui estou eu, repetindo os mesmos erros com mais um que poderia ser o homem da minha vida. Alguém que eu encontrei do lado de cá e que é tudo o que eu sempre quis. Daí que eu encontro alguém que se encaixa em minha fantasia, que se adequa aos meus padrões de bom e ruim. E isso me assusta e intimida. E eu faço tudo errado mais uma vez. Mais uma vez estou cometendo os mesmos erros. E sou um imbecil, porque nem mesmo sei como aprender com meus erros. Não sei sequer usá-los ao meu favor, pra aprender a ser um cara melhor. E talvez achar alguém com quem construir uma vida.
Alguém normal, de carne e osso. Que come, bebe, respira e solta pum. Alguém que não tenha só qualidades, mas defeitos. E que eu saiba ver graça nisso também. Mas, enquanto não consigo descer do meu Olimpo, te castigo pela ousadia de, como mortal, tentar chegar muito perto dos deuses. E assim como Ícaro, também vivo entre o paradoxo do sonho e da morte. Pois quanto mais eu sonho em viver com alguém, mais eu aumento a possibilidade de ficar sozinho.

sábado, 14 de maio de 2011

Amor, Love, Liebe... E o que se perde na tradução.

[esse texto foi originalmente publicado no meu blog sobre Berlin - http://ausbr.blogspot.com]



Talvez a experiência mais inusitada que vivi até agora em outro país foi a de me envolver com alguém. Dizem que a linguagem do amor é universal, mas sou obrigado a discordar dessa afirmativa. Depois de 2 meses e meio em Berlin, percebi que ter um relacionamento por aqui é uma tarefa difícil, ainda mais para um Brasileiro.

Venho de um país onde as pessoas são calorosas e intensas. Gostam de abraçar, se apaixonam a primeira vista, em questão de dias já estão envolvidos até o pescoço com o outro. No Brasil, as pessoas se olham, flertam, conversam umas com as outras. Em Berlin é outra história. Aqui as pessoas são frias, secas e individualistas. Pelo menos no primeiro contato. E o jeito "brasileiro" de ser assusta, e assusta muito aos alemães. Flerte em balada acontece, mas não é como eu estou acostumado. É uma coisa mais formal e mais fria. E o jeito mais fácil de conseguir alguém por aqui é por um website chamado GayRomeo, seja para uma simples trepada, seja para casar e construir uma vida. Todo gay aqui tem um perfil no site, e é lá que eles se soltam... Algo tão impessoal e ao mesmo tempo tão indispensável para eles.

A língua é outra barreira. Eu ainda não falo muito bem Alemão, e gente que fala Português por aqui é algo raro. Mesmo Português de Portugal. Então as conversas tem de ser desenvolvidas em Inglês. Da pra imaginar a confusão, afinal essa não é a língua materna de nenhum dos dois lados - nem eu nem eles. É óbvio que muito se perde na tradução. Talvez por não saber uma palavra, talvez por não saber como se expressar. Ou talvez pelo simples fato de tentar dizer algo e o outro entender um algo completamente diferente. Algo comum em uma comunicação, e que pode ser severamente agravado em uma comunicação estrangeira.

O background é mais um fator que pode ajudar ou atrapalhar tudo. Se dois brasileiros podem ter backgrounds completamente diferentes, imagine um brasileiro e um alemão... Coisas e ações que para mim são normais e perfeitamente compreensíveis, podem ser completamente anormais para eles. E aqui volto a bater na tecla de como os brasileiros são intensos e calorosos. Com meu último namorado, em uma semana juntos já estávamos namorando, conhecendo os amigos e as famílias e trocando juras de amor. Aqui talvez você passe uma vida inteira com alguém sem que nada disso aconteça. E isso é normal pra eles. E se você falar cedo demais em paixão, relacionamento, compartilhar, prepare-se para que eles te olhem com a cara de interrogação e te cortem com um balde de água fria. Isso num cenário positivo, pois pode acontecer do alemão se assustar e sair correndo. E nunca mais te dar notícias.

Por um lado, tenho tido extrema dificuldade em me adaptar a esse estilo de vida afetiva. Eu sou um cara romântico e carinhosos, gosto de fazer o cara que está comigo feliz, gosto de dar presentes, fazer surpresas. E parece que por aqui isso é mais um defeito que uma qualidade. Mas por outro lado, eu já estou começando a entender a forma dos alemães lidarem com o coração e talvez já esteja sendo absorvido pelo sistema deles. Vejo meus amigos brasileiros me falaram sobre paixões instantâneas e avassaladoras no primeiro encontro e já tem uma parte de mim que me diz "que absurdo, no primeiro encontro?" Até uns dias eu era assim. E agora eu tenho que jogar de acordo com as regras daqui. E tem horas que eu até penso que faz algum sentido.

Ainda tenho muito a aprender por aqui, mas nem tudo está perdido. Dizem que o sonho de todo alemão é se casar com um brasileiro. Que eles procuram nos brasileiros o que eles não encontram nos outros alemães. Pode ser que a melhor ideia é me adaptar ao jeito daqui, sem perder o meu jeito de lá. Ser um meio termo entre o alemão e o brasileiro, tentando preservar as melhores características dos dois lados. Porque acima de tudo, eu não quero mudar. Eu não quero deixar de ser um cara fofo e carinhoso. Então o melhor caminho pra mim é continuar sendo o brasileiro intenso, mas com meus momentos de alemão frio e distante. E aprender essa língua logo, pra derrubar mais uma barreira.

Na verdade, ainda tenho muito pra aprender e percorrer aqui. Ainda estou no começo da caminhada. E se vai dar tudo certo? Não sei, isso só o tempo vai dizer.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

O fundo do U

Ontem eu cheguei ao fundo do poço. Acho que foi o pior dia, desde que cheguei em Berlin. Juntou um tanto de coisa, um tanto de coisa que me derrubou. A solidão, que foi atenuada por um feriadão que me me entediou profundamente. Solidão de estar sozinho, em um lugar onde eu ainda não tenho amigos de verdade (isso leva tempo, tempo normal). De estar em um lugar onde eu não falo a língua, não tenho o que fazer, não tenho pra onde ir. Em BH eu pelo menos tinha Michele ao meu lado, e não importa o quão só eu estivesse, ela sempre estava lá ao meu lado, demonstrando seu amor incondicional. Aqui não tenho nada, nem ninguém. Só tenho a mim mesmo. E de vez em quando eu me canso de mim, das minhas músicas, da minha comida, das minhas ideias, dos meus sonhos.
Nos últimos dias conheci um cara, um cara que virou meu mundo de cabeça pra baixo. Alguém que pela primeira vez em muito tempo foi legal comigo, demonstrou afeto, carinho, interesse. Alguém em que eu depositei todos os meus medos e minhas esperanças. E ontem eu experimentei a sensação de não mais tê-lo, e isso me doeu até o ossos. Quando finalmente eu havia pensado que tudo tinha se resolvido, que eu tinha encontrado o meu porto seguro, foi aí que veio a vida e me passou uma rasteira. Eu meio que já esperava que isso acontecesse, acho que com o passar do anos me acostumei a perder as pessoas que eu realmente quero ao meu lado. Não sei se o perdi de verdade, ou se ainda tem muito a acontecer. Só sei que ontem eu senti que o tinha perdido pra sempre. E isso me machucou ainda mais.
Só que agora eu não tenho pra onde correr. Tenho amigos pra me confortar no skype ou no chat do facebook/gmail, mas não tenho quem me dar um abraço apertado e me fazer acreditar que tudo vai ficar bem. Tenho que lidar com minha solidão e minhas desilusões sozinho. E estou sim um pouco desiludido. Desiludido com o meu sonho de vir pra Berlin. A cidade é espetacular, a experiência tem sido fantástica. Mas tem sido muito mais difícil que eu imaginava. Eu imagino que isso seja normal, afinal os sonhos só mostram o lado bom. Senão seriam pesadelos. E eu sonhei com um mundo perfeito, e mundos perfeitos só existem mesmo nos sonhos. E a realidade é outra história.
Mas eu não vou desistir, não vou entregar os pontos e voltar atrás. Eu sei que todos me receberiam de braços abertos, mas eu sempre me olharia no espelho e me acharia um idiota. Tenho muito orgulho pra desistir. Tenho muito orgulho pra voltar atrás. E sabe, no fim vai dar tudo certo. Eu tenho certeza que vai. Porque o bom de estar no fundo do poço é saber que não tem mais como ficar pior. Cheguei ao meu pior estágio, e daqui pra frente acredito que tudo tende a melhorar. Eu acredito, e isso é o mais importante. Em todos os momentos em que eu fiquei triste e deprimido, eu nunca parei de acreditar. É a minha vida, é o meu futuro, e só eu posso fazer isso acontecer. Os momentos difíceis servem principalmente pra nos fazer mudar, melhorar, aprender. E eu quero muito melhorar! Já tenho a garra e agora vou buscar a força. E se eu me dedicar a isso, não tem o que dar errado.
Estou no fundo do U, e daqui pra frente a tendência é subir novamente. Aguardem notícias.

domingo, 27 de março de 2011

Intermezzo

Sentado a frente do Portão de Brandemburgo, em uma Berlin fria e longe de tudo e de todos, eu aproveito os fracos raios de um sol que mais brilha que esquenta. No mesmo lugar onde há quase um mês atrás eu chegava pela primeira vez, maravilhado, em êxtase puríssimo, e de onde eu nunca imaginaria as coisas que a mim iriam acontecer. É aqui que eu me deparo mais uma vez com a felicidade clandestina muito bem descrita um dia por Clarice Lispector. E é assim que eu começo a entender a minha vida.
Já li esse conto mais de cem vezes, e cada vez que leio ele me faz mais sentido. Eu me identifico cada vez mais. Algumas vezes me confundo, não sei se é Clarice que escreve ou sou eu que sinto. Nunca foi fácil, e eu tenho a imensa impressão que nunca será. Nunca nada será fácil pra mim. A felicidade, ela sempre vai ser clandestina na minha vida.
Não posso reclamar, seria injusto da minha parte se o fizesse. Eu sempre tive o que quis, nunca um desejo me faltou. Mas ele sempre veio quebrado, ou pelo menos diferente. Sempre veio torcido. Distorcido. Eu já tentei lutar contra isso, já tentei ser e fazer diferente. Mas algumas coisas são muito fortes, algumas coisas nunca vão mudar. Não importa o quanto eu queira, não importa o quanto eu tente. E serei sempre refém de uma felicidade complicada, impossível, inalcançável. Life is not fair.
"Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez. (...) Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do "dia seguinte"com ela ia se repetir com meu coração batendo. (...) Mas, adivinhando mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra. (...) Meu peito estava quente, meu coração pensativo. Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada."

Não, não preciso dizer mais nada.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Dias, meses, anos - Parte 2

É, eu ainda consigo contar os dias. Minha memória sempre me avacalha, mas quando o assunto é você ela insiste em funcionar perfeitamente. E todos esses dias, meses, anos, todos eu perdi tentando ser um cara bacana o suficiente para estar ao seu lado. Em tudo o que aconteceu na minha vida desde aquele dia tem uma pontinha de vontade de te surpreender. De te mostrar que eu consegui.

Agora eu consigo perceber o quão idiota eu fui, e por quanto tempo. Eu fui só mais um pra você, alguém que talvez você nem inclua na sua lista. E a culpa é minha, porque fui eu que te fiz semideus. Fui eu que te coloquei num altar e resolvi te adorar acima de todos os outros. E fui eu que não consegui dar valor a alguém que realmente gostou de mim, porque não era você. Porque não me desprezava como você o fez. A culpa é minha, e não sua. De não conseguir me relacionar com ninguém sem ter a sombra do seu fantasma. Quando tudo está bem, em paz, quando eu penso que finalmente esqueci e que tudo vai dar certo, você aparece como se para jogar na minha cara que eu não mereço ser feliz por completo.

Agora, longe de você, eu consigo pensar com clareza em o quanto você me é nocivo, e o quanto eu te quero longe da minha vida. Você é minha obsessão, é o meu eu perfeito, é o que eu quero mas não posso ter. Nunca poderei. E eu te valorizo demais, quando em troca você sequer se lembra que eu existo. Eu não faço parte do seu mundo, nunca fiz. Entrei nele por acidente, e quando você percebeu, tratou de arrumar a casa e me colocar no meu devido lugar. E já se foi tanto tempo. Aqui estou eu, mais uma vez. Desperdiçando linhas por você. Porque por você, tudo é desperdício. Você não vale a pena. Mas pena que me custou tanto tempo para perceber.

Tive uma vida sensacional, não posso negar. Tenho uma vida sensacional. E se tivesse que te agradecer um dia, talvez te agradeceria por me ajudar a ser quem eu sou. Mas acho que nem isso você merece. Nem mesmo desprezo eu te daria, porque seria muito para alguém a quem eu sou tão pouco. Porque todo mundo sabe, todo mundo sempre me disse. Mas eu sou burro, e um tanto esperançoso. Fraco, diriam outros. Idiota. E se eu ainda conto os dias, é porque eu ainda preciso pagar pelo meu erro. É porque ainda não fui capaz de aprender. Mas está chegando ao fim.

Eu precisei viajar meio mundo pra perceber o que era óbvio, o que estava diante dos meus olhos por tantas vezes, por tantos anos. Eu fechava os olhos, fazia vista grossa, olhava para o outro lado. Agora eu resolvi enxergar. É difícil, beira o impossível. Estou viciado em você. Em te colocar a culpa por tudo. Em acreditar que um dia vai dar certo com você, quando tudo parece dar errado. Estou viciado em te querer. Mas você é efémero, você nunca está aqui de verdade. Você só existe na minha cabeça. E eu preciso te matar em mim. Para que eu consiga viver.

Agora começo novamente a contar. Só que daqui em diante, conto os dias sem você.

sábado, 12 de março de 2011

O choque de acordar a meio mundo de distância de casa - Parte 1

É engraçado como quando estamos longe de casa, todos os sentimentos ficam maiores. A felicidade é muito feliz, a saudade é muito saudosa. Existe o choque cultural, onde as pessoas, os lugares, tudo é diferente. E entre tudo isso aparecem coisas que são parecidas, até mesmo iguais. Mas na cabeça e no coração acontecem outras explosões...
Caminhando pelas ruas frias de Berlin, eu sinto um misto de sensações. Que algumas vezes são tão intensas que me fariam gritar, dançar, pular... Eu fico quieto, mas é interessante como eu nunca senti isso antes. Ou se senti, nunca fui capaz de perceber. Talvez porque nunca fiquei sozinho de verdade. E aqui eu estou sozinho. Só tenho a mim mesmo. Conheço algumas pessoas, tenho vários candidatos a amigos. Mas todos eu conheci um dia desses, há pouco tempo. Estão sendo super acolhedores, mas ainda não são meus amigos de verdade. E não é por mim nem por eles, essas coisas demoram mesmo. É o tempo normal.
De vez em quando bate um medo. Um imenso medo. Medo de acontecer alguma coisa ruim e eu não ter para onde correr. Mesmo que eu esteja precisando só de um colo. Tenho certeza que as pessoas que já conheci aqui vão me dar o maior apoio, vão entender o que eu estou passando. Provavelmente eles também já passaram por isso. Mas isso me faz pensar em o quanto eu fui corajoso. E ao mesmo tempo egoísta. Meus amigos estão lá, sempre torcendo por mim, sempre vibrando em cada foto ou comentário no facebook. E eu simplesmente abandonei todo mundo pra viver sozinho, em um lugar distante, onde eu não conheço ninguém e de onde talvez eu nem volte. Amigos de verdade, que eu talvez tenha escolhido ver só de vez em quando, enquanto eu estiver visitando... Isso me faz pensar muito. E me assusta, e me deixa triste.
Mas também tenho me sentido muito feliz. Talvez seja somente um distúrbio bipolar. Só sei que eu me sinto feliz de ter conseguido, de estar aqui, de estar realizando esse sonho. De viver em uma cidade linda, organizada, com pessoas espetaculares, receptivas, acolhedoras. De ter a oportunidade de crescer profissionalmente e pessoalmente. Aprender a me virar sozinho. Construir uma vida nova e tentar consertar os erros que eu já cometi na vida. Tudo seria perfeito se não fosse a saudade. Mas também a saudade é diferente. Não é saudade de voltar, mas de trazer todo mundo pra viver aqui comigo. Talvez sejam só os primeiros dias.
Saudade, por exemplo, é uma coisa muito engraçada. Deve ter havido uma época em que ir pra fora do país era como morrer. Perdão pelo exemplo, mas a minha despedida no aeroporto parecia o meu funeral. Meus pais choravam compulsivamente. E daí, com uma semana e pouco que estou aqui, meu pai já disse que está falando comigo com maior frequência agora, que estou a meio planeta de distância. Antigamente devia ser impossível fazer contato, mas hoje é tudo muito fácil, simples. Porque mesmo longe, eu estou totalmente acessível através da internet. Meu telefone está permanentemente conectado e estou a um sms de distância de todo mundo. Skype me permite ouvir, falar, ver e ser visto. Tantas redes sociais, tantos recursos, parece que estou pertinho de todo mundo. E que todo mundo está pertinho de mim. Claro, não dá pra ir correndo encontrar alguém, isso demoraria pelo menos umas 20 horas... Mas dá pra continuar a estar presente.
Talvez por isso quem está me fazendo mais falta é a Michele. Não se ofendam, com todos eu posso falar e ver e etc, mas não com ela. Ela não entenderia porque somente a minha voz está presente. E eu não conseguiria explicar. Eu nunca consegui explicar de verdade que eu estava indo embora. E essa é a minha maior mágoa, porque esse sim foi um verdadeiro abandono.
Por isso eu tenho certeza que eu vou voltar. Pelos meus amigos, pela minha família, pela Michele. Aqui, longe de todo mundo, eu percebi o quanto todo mundo é importante pra mim e o quanto todos me fazem falta. Não prometo voltar pra ficar, isso aqui é muito bom! Talvez seja só pra visitar. Mas se eu tiver que voltar pra morar, eu vou sempre ter a certeza que eu vou estar ao lado das pessoas certas...